Um gênio dos quadrinhos
Por: Iuri Biagioni Rodrigues
Hoje é aniversário de um dos maiores nomes dos quadrinhos estadunidenses e mundiais: Frank Miller! O aclamado quadrinista está completando 66 anos. Ele nasceu em Olney, Maryland, EUA. Seu pai era carpinteiro e eletricista e sua mãe era enfermeira.
Desde pequeno ele era um grande fã de quadrinhos. Lia histórias de heróis, mas sua grande paixão eram os quadrinhos policiais Noir. Ele pensava em trazer esse estilo para suas obras, porém não havia muito espaço para esse estilo na época, pois a preferência era pelas HQs de super-heróis.
No ano de 1975, quando tinha 18 anos, Miller mudou-se para Nova York e passou por diversas dificuldades para iniciar sua carreira nos quadrinhos. O quadrinista afirmou em entrevistas que esse foi um período de incertezas e que passou perto de passar fome.
Não demoraria tanto tempo para a sua situação mudar. Sua primeira obra publicada foi em 1978 na revista Twilight Zone da editora Gold Key Comics com ajuda do famoso desenhista Neal Adams. Ainda neste ano, trabalhou em várias histórias curtas e depois entrou na grande editora DC comics com pequenos trabalhos como desenhista. No final do ano, ele fez sua primeira HQ como desenhista para a Marvel, uma história de 17 páginas de John Carter, Warlord of Mars 18.
Em 1979, Miller pegou a história de um personagem mais popular. Ele foi convidado para desenhar duas histórias do Homem-Aranha, em que o Demolidor era coadjuvante. Logo em seguida, ofereceu-se para fazer a arte das histórias do Homem Sem Medo, assumindo a revista em maio no número 158. Posteriormente, passou a colaborar com Roger McKenzie nos roteiros até tornar-se o escritor e artista definitivo da série no número 168. As vendas da revista não estavam boas e o título corria risco de ser cancelado, mas Miller mudaria tudo. Frank renovou o Demolidor, transformando-o num dos principais heróis da Marvel e com sua criatividade e inventividade inovou o jeito de se fazer quadrinhos de super-heróis. Detalhe: foram necessárias apenas 3 edições escritas e desenhadas por Miller para as vendas crescerem e a Marvel transformar a revista que era bimestral em mensal. As tramas eram mais sombrias e abordavam temas mais adultos.
Para produzir as mensais, Miller contou com a grande ajuda de Klaus Janson, seu arte-finalista mais recorrente. Durante esta passagem ele criou personagens como Elektra e Stick (mestre do Demolidor) e aprofundou personagens como Mercenário e Rei do Crime. Sua última edição foi a 191 em fevereiro de 1983.
Ainda durante sua passagem na Marvel, ele trabalhou com o roteirista e seu editor na revista do Demolidor, Dennis O'Neill, em algumas edições anuais do Homem-Aranha. Em parceria com o roteirista Chris Claremont, produziu a minissérie Eu, Wolverine, considerada uma das melhores histórias protagonizadas pelo popular mutante canadense.
Em 1983, a convite da editora Jenette Kahn fez um trabalho especial para a DC: Ronin, minissérie em seis partes inspiradas nos mangás de Lobo Solitário de Kazuo Koike e Goseki Kojima, de quem o quadrinista estadunidense era muito fã. Em Ronin ele inovou no uso dos quadros, layout de páginas, desenhos, no formato, modo de publicação e ainda ficou com os direitos autorais da obra (algo raro para a época). Foi uma obra à frente de seu tempo, mas não fez tanto sucesso no período de lançamento. Ronin foi muito valorizada posteriormente e inspirou trabalhos dentro e fora dos quadrinhos como Tartarugas Ninja, Samurai Jack, a trilogia Matrix e até mesmo Avatar.
Em 1986, Miller fez aquela que é considerada sua obra prima: Batman O Cavaleiro das Trevas, onde apresentou um Batman voltando da aposentadoria, mais violento, um roteiro inteligente, maduro e mais adulto e trouxe uma excelente narrativa visual. Além disso, Cavaleiro das Trevas retratou muito bem o contexto da Guerra Fria, criticou o governo do presidente Ronald Reagan e o sensacionalismo da mídia. A história foi feita em parceria com Lynn Varley (sua ex-esposa com quem já havia trabalhado em Ronin) e Klaus Janson (sim, o parceiro da fase do Demolidor). No ano seguinte, Miller foi o roteirista responsável por recontar a origem do Batman na obra-prima Batman Ano Um, que fez junto com David Mazzucchelli (arte) e Richmond Lewis (cores).
Para Marvel, em 1986, ele escreveu A Queda de Murdock, para muitos a melhor obra do personagem. Os desenhos ficaram com David Mazzucchelli. Ainda neste ano, ele escreveu Elektra Assassina com a arte de Bill Sienkiewicz. No ano de 1990, ele lançou mais uma história da Elektra (Elektra Vive) em mais uma parceria com a colorista Lynn Varley.
Nos anos 1990, foi para a editora Dark Horse e produziu excelentes obras autorais como Sin City, onde, finalmente, conseguiu trazer a temática Noir e Os 300 de Esparta, onde reconta a história da famosa Batalha das Termópilas. Também participou do selo Legend desta editora produzindo diversas histórias.
A maioria de suas histórias produzidas nas décadas de 1980 e 1990 foram premiadas com os mais importantes prêmios de quadrinhos dos EUA (Kirby, Harvey e Eisner). Foi o auge de sua carreira.
Nos anos 2000 em diante, suas obras não conseguiram atingir o mesmo brilho e qualidade de seus outros trabalhos, mas tivemos algumas coisas interessantes em algumas delas. Citando algumas histórias: Cavaleiro das Trevas 2 (2001-2002), Cavaleiro das Trevas III: a Raça Superior (2016-2017), Xerxes: A Queda da Casa Dario e a Ascensão de Alexandre (2018) e Superman Ano Um (2019).
Após o 11 de setembro de 2001, o quadrinista adotou uma visão negativa, preconceituosa e xenofóbica dos povos Árabes. Isso pode ser notado em Holy Terror - Terror Sagrado de 2011 que é praticamente uma propaganda anti-islâmica e vingativa dos atentados ao World Trade Center.
Miller também trabalhou no cinema como diretor ou roteirista nos seguintes filmes: Robocop II (1990 - roteiro), Robocop III (1993 - roteiro) - Obs: Frank diz que o que foi para as telonas é bem diferente do que ele fez, mas os produtores desconversam, The Spirit (2008 - roteirista e diretor) e nas adaptações de Sin City (2005 e 2014 - roteiro e direção).
De maneira geral, seu trabalho é caracterizado por ter temáticas adultas, violência, críticas sociais, abordagem de temas ligados ao contexto em que as histórias foram escritas, influência da cultura japonesa dos mangás e de histórias Noir, narrativa dinâmica, roteiros inteligentes, ótimos diálogos e narrativa visual cinematográfica. Ele se tornou um dos maiores apoiadores dos direitos de criação dos artistas e sempre atacou censura nos contra quadrinhos.
Em abril de 2022, Miller anunciou que criou a própria editora de quadrinhos em colaboração com o roteirista e editor Dan Didio , a Frank Miller Presents (FMP).
Polêmicas (de personalidade, ideais e qualidade de obras recentes) à parte, Frank Miller, está e sempre estará entre os maiores nomes da história da nona arte, pois sem ele, os quadrinhos não seriam os mesmos.
Prêmios conquistados:
1 Inkpot Award
5 Prêmios Kirby - várias categorias
12 Prêmios Eisner - Várias categorias e está no Hall da Fama da premiação
4 Prêmios Harvey - várias categorias
11 Prêmios Eagle - várias categorias
5 Prêmios UK Comic Art - várias categorias
Scream Award
Fauve d'honneur no Festival Internacional de BD de Angoulême.
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