Conhecendo os Quadrinhos parte 12: Charge e Cartum

Vamos conhecer o que são as charges e os cartuns e as diferenças entre eles!

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Nessa décima segunda parte da série Conhecendo os Quadrinhos, vamos conhecer o que são as charges e os cartuns! Às vezes, os dois termos são usados como sinônimos, mas são diferentes entre si e nós vamos ver quais são essas diferenças.

No material didático do Curso Quadrinhos em Sala de Aula da Fundação Demócrito Rocha, o pesquisador e professor Rozinaldo Antonio Miani, explica que charges, cartuns e caricaturas possuem semelhanças quanto as suas intenções e formas de produção, pois todas retratam situações do dia a dia e situações políticas de forma humorística.

Para Miani, "precisamos reconhecer que entre a charge e o cartum há uma condição que é comum e determinante: ambos são modalidades do humor gráfico de natureza dissertativa, ou seja, sempre apresentam a defesa de uma ideia".

Em seu artigo Histórias em quadrinhos: gênero ou hipergênero?, Paulo Ramos considera os quadrinhos como um hipergênero, ou seja, um gênero amplo que abriga vários outros, cada um com suas particularidades. Assim, charges e cartuns estão abrigados dentro do hipergênero dos quadrinhos.

Então, qual seria a diferença entre eles? É o que vamos ver agora!

Ramos define charge da seguinte maneira: "É um texto de humor que aborda algum fato ou tema ligado ao noticiário. De certa forma, ela recria o fato de forma ficcional, estabelecendo com a notícia uma relação intertextual". De maneira geral, os políticos são os personagens que mais aparecem nessas produções. Entretanto, podemos ter charges esportivas e ligadas com figuras públicas.

Miani traz uma definição similar, porque diz que a charge "é uma representação humorística, caricatural e de caráter político, satirizando um fato ou personalidade específicos, funcionando como uma espécie de editorial gráfico". Com base nisso, vemos que para entender bem uma charge, é necessário estar atento nos noticiários e principais acontecimentos políticos e sociais que estão acontecendo em nível local, regional, nacional e mundial.

O cartum, por sua vez, como lembra Paulo Ramos, não está vinculado ao noticiário. Rozinaldo Antonio Miani mostra que o cartum faz referência a fatos ou pessoas fictícias, sem ligação com a realidade. Deste modo, os cartuns são atemporais e possuem um humor universal.

Miani mostra que as charges possuem uma ligação mais imediata com a realidade, com a atualidade dos fatos e, consequentemente, têm como característica a efemeridade. Portanto, "mantém sua eficácia e eficiência como expressão comunicativa no curto período de tempo em que o acontecimento a que se refere permanece na memória individual e social do seu leitor. " Assim, logo ela perde sua força comunicativa. Porém, ganha um novo valor: o de fonte histórica. Deste modo, quando queremos ver como era a opinião de artistas, imprensa e opinião pública em geral sobre determinados acontecimentos, situações, eventos políticos e pessoas, podemos consultar, pesquisar e analisar as charges. Lembrando que para entendê-las, é preciso estar familiarizado com o contexto histórico, político e social da época em que a charge foi produzida.

Obs: Nem toda charge precisa ser engraçada!

Agora, vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: Charge "Em Canudos" de Angelo Agostini, Dom Quixote, Jornal Ilustrado, n.86, agosto de 1897. Fundação Biblioteca Nacional - Fonte histórica

Esta charge foi produzida no contexto da Guerra de Canudos. Aqui, vemos que Angelo Agostini coloca o Exército brasileiro do lado de direito e Antonio Conselheiro (líder do arrail de Canudos) já envelhecido no lado esquerdo sendo a única resistência. No canto inferior, vemos o beato e um representante do governo jogando cartas, um jogo de azar, para ver de quem seria a vitória. Agostini ironiza o exército pelas derrotas e fracassos nas primeiras campanhas e critica os sertanejos de Canudos. A charge mostra que havia maldade, violência e falta de razão em ambos os lados do conflito. Para compreender estas situações precisamos conhecer o contexto histórico em que a obra foi publicada.

Exemplo 2: Charge de Alfredo Storni publicada em 1905 - Fundação Biblioteca Nacional - Fonte histórica

Esta charge faz uma crítica à hegemonia das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais no governo central (presidênci da República). Vemos que um fazendeiro paulista e outro mineiro controlam a cadeira presidencial que está no alto do monte, enquanto a elite agrária de outros estados do país tentan alcançar, sem sucesso, o controle político. Para compreender essa charge é preciso conhecer o conceito de "política do café com leite" e elementos da república oligárquica.

Exemplo 3: charge de Ziraldo no período da ditadura - Fonte histórica

Charge de Ziraldo sobre o AI-5, Ato Institucional que intensificou e legitimou a perseguição e censura na Ditadura Civil/Militar brasileira

Exemplo 4: Charge publicada no jornal paulistano "Agora" no começo do primeiro mandato de Lula. - Fonte histórica

Para entender a crítica feita nessa charge, é preciso conhecer a política econômica adota pelo governo Lula (1º mandato) para conter a inflação. Aqui, vemos que o governo decide manter a alta taxa de juros e diminuir a oferta de crédito para impedir o consumo. Essas medidas seriam as mesmas do governo anterior, por isso Lula torna-se FHC na última vinheta.

Exemplo 5: charge de Carol Andrade (Carol Cospe Fogo) sobre o governo de Jair Bolsonaro - Charge ainda atual, mas devido ao seu caráter efêmero logo será fonte histórica . (Obs: nessa charge ela assinou como Barbie Cospe Fogo)

A charge critica a política armamentista do ex-presidente Jair Bolsonaro e seu descaso com a educação. Para entender, era preciso estar atento ao noticiário e falas de Bolsonaro.

Exemplo 6: Charge esportiva de Duke

Duke está satirizando os esquemas de apostas que aconteceram recentemente no futebol brasileiro

Exemplo 7: cartum de Quino

Aqui, vemos várias marcas de carimbo que mostram as tentativas para derrubar a aranha como vemos pela posição dela no chão . O humor está em uma situação corriqueira e não em algo atrelado com o noticiário.

Exemplo 8: cartum de Duke

Aqui, o humor é usado para criticar o desperdício de água. É uma situação mais universal e não atrelada com fatos de caráter mais jornalísticos como uma charge.

Exemplo 9: Cartum de Laerte

Aqui, vemos Laerte fazendo uma crítica à ignorância utilizando-se de personagens fictícios. É atemporal

Exemplo 10: cartum de Angeli

Angeli faz uma crítica social às relações pessoais no ambiente empresarial. É uma crítica atemporal.

Exemplo 11: cartum de Carol Cospe Fogo

Cartum com referência ao pensamento de Paulo Freire

Resumindo:

Tabela elaborada pelo autor