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Foto do escritorIuri Biagioni Rodrigues

Conhecendo os quadrinhos parte 17: cores I

Atualizado: 1 de jun.

Vamos conhecer o papel das cores nas HQs!

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Fundo quadrinhos

Olá! Dando continuidade à série Conhecendo os Quadrinhos, vamos conhecer um pouco mais sobre um elemento importantíssimo para as histórias em quadrinhos: as cores!


Ao contrário do que as pessoas podem pensar no senso comum, as cores das HQs não servem apenas para preencher desenhos e deixar a arte mais bonita. Elas exercem um papel crucial para construção da narrativa. Há quem diga que as cores são a trilha sonora dos quadrinhos.


Deste modo, conforme escrevem Guilherme Smee e Thiago Krening em Criação de histórias em quadrinhos: do argumento à edição final, as cores são relevantes para uma HQ, porque além das funções de sombreamento e volume, elas auxiliam na ambientação da história, ou seja, elas são responsáveis passar sensações e trazer novos elementos para a narrativa. Assim, uma história com uma trama mais densa e sombria terá uma paleta de cores diferente de uma história mais alegre, cômica ou voltada para o público infantil.


A colorista Cris Peter também comenta sobre isso no seu livro O Uso das Cores. De acordo com ela: "Nos quadrinhos, o trabalho de contar uma história através das imagens é fundamental. Alguns autores defendem que um bom artista de quadrinhos consegue fazer o leitor entender o que está acontecendo mesmo sem qualquer fala. Já as cores, nesse mesmo cenário, têm uma função extremamente importante. Ela não preenche só os traços do desenho, ela também deve ajudar a contar a história, e a maneira de fazer isso é justamente através de ambientação, foco e profundidade. Através de combinações de cores variando matizes, saturação, luminosidade e valores, os coloristas ajudam o roteirista e o desenhista de uma HQ a transmitir suas mensagens. Seja ambientando os personagens em uma hora do dia ou em locais diferentes, ou direcionando o olhar do leitor para um elemento importante, ou dando a ideia de dimensão dos cenários que estão sendo representados. A cor ajuda a guiar o olhar do espectador."


Os pesquisadores Randy Duncan e Matthew J. Smith explicam que: "As cores podem servir para inúmeras funções narrativas. A maioria dos personagens de quadrinhos mainstream, de super-heróis para cowboys para patos, possuem um esquema de cores invariável e reconhecível. Como a estudiosa europeia dos quadrinhos Ann Miller aponta, 'a cor pode fazer a história mais fácil de ser seguida: ―ao permitir os personagens serem reconhecidos de um painel para outro'. A cor também pode criar ou amplificar a emoção de uma história. ―Geralmente, raiva, violência ou qualquer painel de impacto terá cores como vermelho, amarelo ou laranja. Cores frias como azul e violeta são usadas quando o tom é triste e deprimente" - (tradução de Guilherme Smee em Histórias em quadrinhos: definições conceituais).


No livro A Leitura dos Quadrinhos, o professor e pesquisador Paulo Ramos comenta que as cores ainda são pouco estudadas na linguagem das HQs. Para ele, elas são signos plásticos que possuem informação ora mais relevante para o entendimento do texto da HQ, ora menos. Apesar disso, elas sempre têm conteúdo informacional e estão inseridas no espaço onde ocorre a narrativa.


Agora ver alguns exemplos de como as cores podem ser utilizadas nas histórias em quadrinhos.


Exemplo 1: Nas imagens abaixo, de Superman: As Quatro Estações de Jeph Loeb (roteiro), Tim Sale (arte) e Bjarne Hansen (cores), vemos que as cores são usadas como borrão (imagem 1) e torrente de luz (imagem 2) , ajudam a transmitir a ideia de movimento do personagem Superman.


Exemplo 2: Na imagem abaixo, de DC: A Nova Fronteira de Darwyn Cooke (roteiro e arte) e Dave Stewart (cores), vemos que o movimento do Flash é representado pelo uso das cores que funcionam como linhas cinéticas.


Exemplo 3: Em A Idade de Ouro de Roxanne Moreil (roteiro) e Cyril Pedrosa (roteiro, arte e cores), vemos que no primeiro volume da história, há predominância de cores vivas, claras e suaves, combinando com o ar de aventura deste momento da história (imagem da esquerda). No segundo volume, o estilo das cores muda, elas ficam mais escuras e fortes, porque o tom da história muda. Ela fica mais séria, sombria e tensa (imagem da direita).

Exemplo 4: Na série Neo-noir

utiliza-se do alto contraste entre branco e preto. Assim, o branco é muito branco e o preto é muito preto, mas em alguns casos Miller utiliza-se das cores para trazer diferentes efeitos e sensações. Por exemplo, em Sin City O Assassino Amarelo, ele usa a cor amarela para destacar o personagem do título que é o vilão da história. (o mesmo ocorre com a femme fatale Olhos azuis em Balas Garotas e Bebidas e De Volta ao Inferno). Nesses casos, a cor tem um papel extradiegético.

Já em Sin City De Volta ao Inferno, Frank Miller contou com o auxilio de Lynn Varley para representar a sequência em que o protagonista Wallace está sob o efeito de drogas. Deste modo, a interrupção do uso do preto e branco serve para indicar a mudança de estado de consciência do personagem e reforçam a experiência psicodélica e lisérgica vivida por ele.


Exemplo 5: Em Árabe do Futuro, o quadrinista Riad Sattouf utiliza uma paleta de cores que é quase monocromática, mas que varia de acordo com a bandeira e características do país em que as cenas se passam. Assim, quando os personagens estão na França as cores predominantes são azul, branco e vermelho (mais raramente). Quando eles estão na Síria as cores usadas são vermelho e rosa. Já quando estão na Líbia, vemos amarelo e verde sendo utilizados.


 

 

 





Exemplo 6: Em Turma da Mônica Laços de Vitor Cafaggi (roteiro, arte,cores), Lu Cafaggi (roteiro e arte) e Priscilla Tramontano (cor base), as cores com predominância de tons de bege indicam que a cena ocorre no passado da trama principal.


Exemplo 7: No clássico Os 300 de Esparta de Frank Miller (roteiro e arte) e Lynn Varley (cores), a colorista utiliza tons pastel e fortes tonalidades de marrom e vermelho. A paleta de cores combina muito bem com a narrativa e cria um ambiente épico e árduo para a luta entre espartanos e persas.

Exemplo 8: Em Dias de Areia, Aimée de Jongh (roteiro, arte e cores) utiliza cores quentes para ressaltar as paisagens e tons de amarelo e areia que reforçam a aridez da região de dust bowl onde a história é ambientada.

Exemplo 9: Nas Graphics MSP do Astronauta por Danilo Beyruth (roteiro e arte) e Cris Peter (cores), percebemos que o trabalho da colorista contribui fortemente para a identidade visual da série. Além disso, as cores de Cris reforçam a beleza, a vastidão e os mistérios do espaço sideral e combinam perfeitamente com o tom de aventura, ficção científica e ação da trama de Beyruth.

Exemplo 10: Em Bendita cura, quadrinho sobre os perigos de se acreditar e praticar a "cura gay", de Mário César (roteiro, arte e cores), notamos que o quadrinista utiliza uma paleta caracterizada pela presença de três cores principais: azul, rosa e branco que são as cores da bandeira que representa a comunidade transgênero.

Com isso, encerramos a parte um sobre cores. Na próxima parte, vamos ver um pouco sobre o processo de colorização de um quadrinho e algumas dicas de coloristas que você precisa conhecer! Até lá!

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