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Foto do escritorIuri Biagioni Rodrigues

Conhecendo os quadrinhos parte 18: cores II

Vamos continuar explorando a temática das cores nos quadrinhos!

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Quadrinhos fundo

Na parte anterior, vimos como as cores auxiliam na narrativa dos quadrinhos. Agora, vamos conhecer um pouco mais sobre o processo de colorização de um quadrinho e algumas dicas de coloristas que você precisa conhecer!


Entretanto, antes disso é preciso definirmos algumas coisas. Primeiramente, o que é cor? Bem, de um modo resumido, podemos dizer que cores são luzes que refletem de algum objeto para os nossos olhos. Lembre-se das aulas de física sobre óptica: a luz branca contém todas as outras cores e os objetos quando a recebem absorvem a maior parte dessas cores e refletem apenas uma delas. Assim, por exemplo, o azul absorve as outras e reflete apenas o azul. O branco, por sua vez, reflete todas e o preto absorve todas. Isso é o que chamamos de "cor luz". Temos também a "cor pigmento" que é aquela que utilizamos para imprimir e pintar.


Quando falamos de cor, é importante citar o círculo cromático que foi descrito, em 1810, no livro Teoria das Cores de Goethe (sim, o famoso escritor autor de Fausto). O círculo compreende 12 cores que são divididas em primárias (puras), secundárias (mistura de cores primárias) e terciárias (mistura de cor primária com secundária).


A partir disso, desde pequenos aprendemos que as cores primárias são azul, vermelho e amarelo. Entretanto, como mostram Guilherme Smee e Thiago Krening, não é bem assim. Eles explicam que os modelos de cor (luz e pigmento) são conhecidos como RGB (modelo aditivo) e CMYK (modelo subtrativo).


RGB é uma sigla para Red, Green e Blue (vermelho, verde, azul) que são as cores luz base, que monitores de computador, utilizam para criar todo espectro cromático que vemos. Esse modelo é aditivo, pois se somarmos essas três cores obteremos o branco como resultado. CMYK é uma sigla para Cyan, Magenta, Yellow e Key (ciano, magenta, amarelo e preto que é considerado uma cor chave para a impressão). Esse modelo é subtrativo, porque a soma dessas quatro cores resulta em preto, ausência de luz.


O modelo que aprendemos na escola é chamado de RYB, ou seja, Red, Yellow e Blue (vermelho, amarelo e azul). Esse modelo é mais limitado.



Mas qual é a relação disso com os quadrinhos? Bem, os quadrinhos impressos utilizam justamente o esquema de cores azul, vermelho, amarelo e preto (CMYK) para compor todo o espectro que vemos. Antigamente, isso era feito através de uma retícula (superfície pontilhada) que era obtida por meio de um processo técnico próprio a partir de uma imagem produzida em cores por um desenhista ou de uma imagem já existente que fosse plana e produzida pelo tipógrafo. Assim, como descreve o pesquisador Daniele Barbieri no livro As Linguagens dos Quadrinhos , esse processo era mais econômico e, portanto, era a razão de a maior parte dos quadrinhos terem cores planas ou uniformes e bem simples. Hoje em dia, os tipos de impressão já são bem mais avançados.


Atualmente, com a colorização digital por meio de softwares como o Photoshop, os coloristas utilizam o modelo RGB no seu processo de trabalho. Porém, os profissionais da área tomam cuidado, pois sabem que certos tipos de cores funcionam bem no digital, mas não ficam boas no papel impresso. Logo, se alguém está produzindo uma história em quadrinho com cores digitais com o intuito de imprimir a obra, os arquivos terão que ser convertidos para CMYK. Agora, se a ideia é manter a HQ só no meio digital, isso não será necessário.


Agora, vejamos alguns conceitos que as pessoas que atuam como coloristas de HQs precisam conhecer. Sobre isso, Guilherme Smee e Thiago Krening destacam termos importantes sobre a roda cromática:


Cores complementares: cores que estão diretamente opostas na roda cromática. Quando colocadas lado a lado, elas vibram e podem causar um certo desconforto visual se não forem utilizadas da maneira correta.


Cores análogas: cores que estão dispostas lado a lado dentro roda cromática. Elas possuem matizes bem próximos.




Tríade: conjunto de três cores que estão equidistantes na roda cromática.


Tétrade: dois pares de cores complementares não adjacentes (cores que não se tocam)


Além disso, é importante conhecer algumas características e qualidades das cores. Em O Uso das Cores, Cris Peter explica e destaca algumas delas. Vejamos:


Matiz: é o que define basicamente a cor, ou seja, é a cor em sua "forma bruta". É a matiz que nos faz enxergar algo verde como verde e não azul.


Saturação: indica o quão vibrante é uma cor. Assim, as cores fortes são mais saturadas e as cores acinzentadas e mais fracas são menos saturadas. Nas misturas, quanto menos cinza, mais saturada e pura ela será.



Luminosidade: determina a iluminação que a cor possui, ou seja, o quão clara ou escura ela é. Cris lembra que para escurecer uma cor, é necessário adicionar a sua cor completar a ela. Agora, para deixar uma cor mais luminosa, é preciso acrescentar branco. (O termo brilho também é utilizado para referir-se à luminosidade)

Valor: Segundo Cris Peter, o valor é a “a profundidade do tom” de cada cor. Deste modo, ele possui relação com o quão clara ou escura é uma cor, mas é mais complexo que isso. Sobre isso, Guilherme e Thiago, já citados anteriormente, explicam que "diferentes matizes podem ter o mesmo valor. A melhor forma de conferir isso é pegar uma imagem colorida e transformá-la em tons de cinza. Sem o matiz, podemos notar o valor de uma em relação à outra."

Para as histórias em quadrinhos, o valor das cores influenciam diretamente na forma como nós percebemos os volumes.


Além do que já foi explicado, coloristas precisam entender a psicologia das cores, área de estudos que busca identificar e analisar os aspectos subjetivos presentes nas cores. Sabemos que cada cor tem um significado e que transmite sensações. Outros detalhes importantes são: saber o público alvo, pois a paleta de cores é diferente de um público para o outro, as interpretações culturais, porque uma mesma cor pode ter significados diferentes em locais diferentes e escolher cores que estejam relacionadas e combinem com a temática retratada.


Para finalizar teoria na temática das cores, vamos conhecer o processe de colorização das HQs. Baseado no fascículo sobre core do material do Curso Básico de Histórias em Quadrinhos da Fundação Demócrito Rocha produzido Robson Albuquerque e Dharilya Sales veremos as principais formas de colorir um quadrinho.


Colorização Tradicional: Esse método corresponde àquela pintura feita de maneira artesanal com a utilização dos pigmentos em forma pastosa, líquida ou em pó sobre o desenho da HQ. Quando a obra estiver pronta, ela será digitalizada. Alguns dos materiais mais usados por coloristas nesse processo são marcadores (muito comuns em mangás), aquarela (muito utilizada em quadrinhos europeus e por alguns artistas nacionais), lápis de cor, giz de cera, tinta, entre outros materiais.


Exemplos de quadrinhos com a colorização tradicional:


Ex1: Shallow Spaces de Pedro Vó. Aqui, o quadrinista utiliza diversos materiais como giz de cera e lápis de cor para colorir o quadrinho. - Quadrinho independente


Ex2: Mulher-Maravilha A verdadeira Amazona de Jill Thompson (editora Panini). Nesta HQ, a quadrinista utilizou-se da aquarela para colorir a história.

Outros quadrinhos com aquarela: Piteco Ingá (Shiko), Em Fuga (Lelis), Aldobrando (Gipi e Luigi Critone), Beco do Rosário (Ana Luiza Koehler), Tina Respeito (Fefê Torquato), Borgia (Alejandro Jodorowsky e Milo Manara), entre outros.


Colorização Digital: acontece no âmbito virtual utilizando de softwares específicos em dispositivos como computador, celular, tablet e Ipad por exemplo. Os programas simulam as características da pintura tradicional, então trazem opções de superfícies e pincéis que podem ser combinados e adaptados de acordo com a necessidade do trabalho. A colorização digital também permite o uso de uma infinidade de cores. Outro equipamento bastante utilizado é a mesa digitalizadora, pois torna o processo de pintura bem mais fácil.


Atualmente, as obras de grandes editoras como Marvel e DC, são praticamente todas coloridas de maneira digital. Esse processo é bem mais rápido, facilitando a produção e impressão das HQs. Outro detalhe é importante é que hoje em dia é muito comum termos apenas quadrinhos digitais, portanto é óbvio que serão coloridos digitalmente.


O trabalho de colorir quadrinhos de maneira digital, é executado da seguinte forma: primeiramente, as cores base (flats) são aplicadas e, depois, as cores definitivas com as luzes, sombras, volumes, texturas e ambientação. Em grandes editoras, geralmente, há profissinais só para os flats e outros para aplicação definitiva de cores.


Exemplos de quadrinhos com a colorização digital:


Ex1: Homem-Aranha De Volta ao Lar de Joe Michael Straczynski (roteiro), John Romita Jr (desenhos), Scott Hanna (arte-final) e Dan Kemp e Avalon Studios (cores) - Editora Panini


Ex2: Astronauta Convergência de Danilo Beyruth (roteiro e arte) e Cris Peter (cores) - Editora Panini.

Agora, para finalizar, vamos ver alguns coloristas e seus trabalhos que valem a pena de serem conferidos:


  1. Cris Peter: Graphics MSP do Astronauta, Supergirl, Pétalas, Casanova, Miles Morales Maré de Azar;

  2. Dave Stewart: DC A Nova Fronteira, Black Hammer, Mulher-Maravilha Hiketeia, Hellboy, Capitão América Branco e Homem-Aranha Linhagem de Sangue

  3. Alex Sinclair: Batman Silêncio e Crise de Identidade

  4. Lynn Varley: Batman O Cavaleiro das Trevas, Ronin, Elektra Vive e Os 300 de Esparta;

  5. Mariane Gusmão: O Menino Rei

  6. Priscila Tramontano: Turma da Mônica Laços, Transformers e GI Joe

  7. Steve Oliff: X-Men Deus Ama, O Homem Mata, Os Melhores do Mundo, Vingadores Eternamente, Spawn Origens,

  8. Lelis: Em Fuga

  9. Ana Luiza Koehler: Beco do Rosário e Viaduto

  10. Amanda Freitas: The Flower Pot

  11. Matheus Lopes: Supergirl Mulher do Amanhã e Batman A Gárgula de Gotham

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