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Conhecendo os quadrinhos parte 19: A estética dos mangás

Vamos conhecer um pouco mais sobre a estética dos quadrinhos japoneses!

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Quadrinhos fundo

Se você não é uma pessoa que lê quadrinhos frequentemente, talvez tenha dificuldade para reconhecer de qual país é determinado quadrinho só de olhar para a arte dele, entretanto se mostrarmos uma página de mangá, muito provavelmente você saberá que trata-se de um quadrinho japonês! Isso ocorre, porque os mangás têm elementos estéticos bem específicos. Esse é o tema dessa parte.


Primeiramente, é válido destacar que os mangás possuem características que os diferem dos demais tipos de quadrinhos que vemos aqui no Ocidente. Generalizando, podemos dizer que as HQs do Japão possuem uma maior espontaneidade e simplicidade no traço que são marcantes em sua estética.


De acordo com Amaro Braga Júnior, cada cultura produz uma estética própria quanto sua aparência e representação visual, ou seja, a maneira como se veem. Assim, no Japão, é comum encontrarmos um perfil que é magro e baixo com alguns exageros. (Importante lembrar que isso não é algo absoluto, mas uma tendência).


Analisando o desenho, observamos que os quadrinhos japoneses possuem a tendência de seguir um traço mais limpo, com poucas ranhuras ou sombreados de forma no contorno do desenho. Sombras e texturas são feitas com ajuda de retículas no momento da arte-final. Além disso, temos que os personagens, de um modo geral, possuem traços simples com poucas linhas para definir suas feições. Outro aspecto importante está na preocupação com as expressões faciais e corporais, emoções e no tipo de cabelo. Assim, vemos que há uma maior preocupação com a cabeça e vestes dos personagens do que com seus corpos.


Os rostos são feitos de maneira mais caricatural ou tendendo ao estereótipo, mas são bem trabalhos e podem ser perfeitos/equilibrados esteticamente falando ou mais peculiares como aqueles bem deformados .


No que diz respeito aos cenários, podemos mencionar que eles são simplificados ou ausentes em alguns casos. Deste modo, os personagens são representados em vinhetas de fundo branco ou acompanhados com linhas de ação e texturas de preenchimento.


Agora, vamos analisar algumas técnicas e recursos estilísticos utilizados pelos mangakás para contar suas histórias. Mas antes disso, você que acompanhou o texto sobre cores (Conhecendo os quadrinhos parte 17 e 18), talvez, deve estar se perguntando: os mangás são comumente feitos em preto e branco, então como fica todo aquele papel das cores que auxiliam na narrativa neles? Bem, para o pesquisador e quadrinista Scott McCloud, no livro Desvendando os Quadrinhos, as HQs que são feitas em preto e branco (ou em tons de cinza), revelam novas camadas de narrativa e levam mais facilmente a uma reflexão sobre o que está acontecendo na trama. Para ele, este tipo de história comunica as ideias por trás da arte de uma maneira mais direta. Nos próximos parágrafos, você vai ver como isso acontece nos mangás.


A primeira característica estética que destaco aqui é o Notan, equilíbrio entre claro e escuro nas cenas, cenários e nos personagens. Assim, é comum encontrarmos personagens parceiros em que um tenha cabelo claro e o outro escuro ou um de trajes escuros e outro de claros por exemplo.


Exemplo 1: Vinhetas de Vampiros por Osamu Tezuka (roteiro e arte) - Editora Pipoca e Nanquim

Exemplo 2: Vinhetas de Dragon Ball vol.40 por Akira Toriyama (roteiro e arte) - Editora Panini



Há também o Chobo-chobo, manchas gráficas que dão a sensação de preenchimento nos fundos anulados. João Henrique Lopes, no livro Elementos do estilo mangá, destaca que o chobo-chobo é muito comum para representar explosões, ventos, brisas e impactos em geral.


Exemplo 1: Vinheta com fundo preenchido por linhas que indicam movimento (corrida) em Look Back de Tatsuki Fujimoto (roteiro e arte) - Editora Panini


Exemplo 2: Página de Dragon Ball vol.36 por Akira Toriyama (roteiro e arte) - editora Panini

Exemplo 3: vinhetas de  Vampiros por Osamu Tezuka (roteiro e arte) - Editora Pipoca e Nanquim


Outro elemento visual bastante comum e conhecido que não pode ficar de fora são os tradicionais olhos grandes. Eles são representados com exagero de proporções, ocupando cerca de 1/3 do rosto dos personagens. Além disso, eles são bem expressivos.


Agora, vamos ver os recursos metalinguísticos utilizados nos mangás. Para ser mais preciso, vamos ver as emanatas, Kawaii, chibi e Super Deformed (SD).


Já tivemos uma parte específica para emanatas, então você deve lembrar que emanatas são metáforas visuais que emanam dos personagens que ajudam a reforçar expressões, sentimentos e emoções. No caso dos mangás, as caretas expressivas, gotas no lado da cabeça, secreção nasal, asteriscos na testa são muito comuns.


Exemplo 1: vinhetas de A Nova Ilha do Tesouro por Osamu Tezuka (roteiro e arte) - editora New Pop

Exemplo 2: Vinheta de Dragon Ball vol.9 por Akira Toriyama (roteiro e arte) - editora Panini


Exemplo 3: vinheta de Fullmetal Alchemist vol. 1 por Hiromu Arakawa (roteiro e arte) - editora JBC

Exemplo 4: vinheta de Dragon Ball vol.36 por Akira Toriyama (roteiro e arte)

Exemplo 5: vinheta Dragon Ball Gaiden - Aquela vez que reencarnei como Yamcha de Dragongarow Lee (roteiro e arte - baseado na obra de Akira Toriyama)



O Kawaii, um adjetivo que significa bonitinho ou fofo em japonês, é uma tendência de infantilizar o desenho em algumas situações. Assim, em alguns momentos, encontramos versões "bebês" dos personagens e a presença de bichinhos fofinhos.


Exemplo 1: Vinheta de Dragon Ball vol.7 por Akira Toriyama (roteiro e arte)

Exemplo 2: vinheta de Dragon Ball vol. 1 por Akira Toriyama (roteiro e arte)

Exemplo 3: capa de Sakura Card Captors do grupo Clamp

O Chibi é um estilo de composição do corpo humano caracterizado por representar os personagens em miniaturas, uma espécie de versão infantil que enfatiza o aspecto Kawaii (fofura).


Exemplo: personagens de Jujutsu Kaisen de Gege Akutami em estilo chibi


Para finalizar, temos o Super Deformed (SD), estilo que é caracterizado pela simplificação do desenho (na proporção corpo/cabeça), diminuindo o seu tamanho (miniaturas) ou por aumentar a complexidade do desenho, aumentando seu tamanho (maxituras). Como destaca Amaro Braga Júnior, a simplificação e diminuição dos traços trazem comicidade, enquanto o aumento e a complexidade trazem dramaticidade. Deste modo, tanto as miniaturas quanto as maxituras são utilizadas para dar um maior destaque aos sentimentos dos personagens conforme a trama vai se desenvolvendo.


Exemplo 1: vinheta de Kare Kano por Masami Tsuda (roteiro e arte) - editora Panini


Exemplo 2: vinhetas de Fullmetal Alchemist vol.1 por Hiromu Arakawa (roteiro e arte)




As angulações, formatos e disposição de quadros e a composição das páginas também é bem diferente do que vemos aqui no Ocidente. Então, esses tópicos serão abordados em uma próxima parte da série Conhecendo os quadrinhos. Aguarde!


Texto produzido com base em Histórias em quadrinhos japonesas: história, estética e impactos sociais de Amaro Braga Júnior, O "Som" do Silêncio: traduções/adaptações de onomatopeias e mimésis japonesas nos mangás traduzidos para a língua portuguesa de Renata Garcia de Carvalho Leitão e nos livros citados.












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