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Foto do escritorIuri Biagioni Rodrigues

Conhecendo os Quadrinhos parte 2: História.

Atualizado: 5 de jul.

Bora conhecer um pouquinho mais sobre a origem da nona arte!


Por: Iuri Biagioni Rodrigues


Os quadrinhos como conhecemos hoje surgiram no final do século XIX, embora a ideia de representar ações humanas através de imagens seja bem mais antiga. Como exemplo disso temos as pinturas rupestres e as gravuras medievais que retratavam cenas da vida de Cristo. Além disso, as primeiras formas de escrita estavam intimamente relacionadas com a imagem daquilo que seria representado. Exemplos: escrita cuneiforme, os hieróglifos e a escrita japonesa por exemplo. Vejamos, resumidamente, um pouco da história da nona arte.


Para muitos pesquisadores, principalmente os estadunidenses, as HQs surgiram nos EUA no final do século XIX. Entretanto, na mesma época ou até um pouco antes, era possível encontrar produções com características das histórias em quadrinhos em outros países do mundo como Suécia, Suíça, França, Alemanha e Brasil, sim o Brasil foi um dos pioneiros no surgimento da linguagem dos quadrinhos. Entre os autores desses países, podemos destacar: Johan Tobias Sergel e August Ehrensvärd, Rudolph Töpffer, Georges Colomb, Wilhelm Bush e Angelo Agostini respectivamente.


Os suecos Johan Tobias Sergel (1740-1814) e Carl August Ehrensvärd (1745-1800) começaram a produzir histórias de caráter sequencial e usando quadros no final do século XVIII. Essas obras retratavam o cotidiano da época e faziam críticas ao falso moralismo da sociedade do século XVIII, principalmente, os abusos da Igreja Católica.


O suíço Rudolph Töpffer (1799-1846) publicou seus primeiros quadrinhos em 1827 com o personagem M. Vieux Bois e com Monsieur Jabot em 1833. Esses trabalhos tinham características cômicas, faziam críticas sociais e foram os primeiros a alcançar um grande público, provando o potencial comercial dos quadrinhos. O trabalho de Töpffer era admirado por Johann Wolfgang von Goethe, famoso escritor alemão considerado um dos maiores nomes da literatura da Alemanha e do Romantismo europeu. Após a morte de Rudolph, sua obra foi publicada em uma coletânea, publicada entre os anos 1846 e 1847, que recebeu o nome de Histoire em Estampes (Histórias em Estampas). Muitos pesquisadores consideram que Töpffer é a pessoa que inaugura o quadrinho moderno.


Na Alemanha, Wilhelm Busch (1832-1908), inspirando-se em Töpffer, criou suas próprias histórias no ano de 1860. Sua obra mais famosa é Max e Moritz de 1865. Na França, o professor Georges Colomb, que era doutor em Ciências Naturais, publicou suas HQs no final década de 1880 e nos primeiros anos da década de 1890.


Agora, vamos "puxar a sardinha" para o nosso lado. Angelo Agostini nasceu na Itália, mas era radicado no Brasil (veio para cá aos 16 anos de idade). De acordo com muitos estudiosos dos quadrinhos nacionais, podemos afirmar que o ítalo-brasileiro criou a primeira HQ do nosso país. Trata-se de "As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à corte", publicada na revista carioca Vida Fluminense no dia 30 de janeiro de 1869. A história tinha 9 páginas duplas e possuía as características de um quadrinho. Agostini usou suas obras para criticar a monarquia brasileira, a escravidão e para espalhar ideias abolicionistas e republicanas. Em, ele 1883 lançou seu maior sucesso, o Zé Caipora, que é o primeiro personagem de HQs de longa duração publicadas no Brasil.


Agora, vamos para os EUA. Lá, em 1893, Jimmy Swinnerton (1875-1974) começou a publicar trabalhos que são considerados os primeiros quadrinhos da terra do Tio Sam com destaque para: California Bears, The Little Bears e Little Bears and Tykes que saiam em jornais da época. Depois, em 1895, entra a figura de Richard Outcault (1863-1928). Ele é um dos principais expoentes dos quadrinhos como conhecemos hoje. Sua grande criação foi Yellow Kid (garoto amarelo), histórias publicadas em jornais de Nova York. Suas histórias fizeram muito sucesso e foram as primeiras a adotar um personagem fixo, a ação fragmentada em quadros delimitados e sequenciais e os balões de texto. (Antes disso, as falas eram apresentadas em legendas abaixo das imagens). Outras obras desse quadrinista venderam bastante e contribuíram para a popularização das HQs e para o surgimento de indústria voltada para elas. É por isso que Outcault concorre à paternidade dos quadrinhos contemporâneos.


Ainda nos Estados Unidos, a ilustradora Rose Cecil O'Neill (1874-1944) começou a ter ilustrações publicadas em jornais quando tinha apenas 15 anos e é considerada a primeira mulher cartunista dos EUA. Ela começou a produzir suas HQs no final da década de 1890 e nos primeiros anos do século XX. Sua criação mais famosa foi Kewpies, tiras sobre um grupo de cupidos.


Voltando para o Velho Continente, na Suécia, em 1896, Eva Ottilia Adelborg (1855-1936) lança sua primeira história em quadrinhos elle Snygg och barnen i Snaskeby (Pele Elegante e crianças em Snaskeby) que tinha como objetivo ensinar noções de higiene para o público infantil. Depois, em 1899, veio Er Björnhistoria (Uma história de urso). Adelborg fazia quadrinhos voltados para o uso pedagógico. Ela fez com que quadrinhos se tornam-se uma forma de educar crianças.


Entre outras mulheres pioneiras dos quadrinhos podemos destacar: Louise Quarles, Jean Mohr, Kate Carew e Grace Dayton.



Outros autores, buscam as raízes dos quadrinhos nas charges e caricaturas, embora elas tenham suas próprias particularidades. Assim, não há uma data historicamente precisa para o surgimento das HQs e nem um país específico para a sua origem.


Vale destacar que o avanço da imprensa, suas técnicas, o nascimento de cadeias jornalísticas e centros de distribuição (syndicates) criaram as condições essenciais para o surgimento dos quadrinhos como um meio de comunicação de massa. Desta maneira, foi nos EUA que esta mídia floresceu. Com o passar dos anos, os quadrinhos foram aprimorando suas técnicas, apresentando novos temas, tornando-se mais acessíveis e, atualmente, são muito populares no mundo inteiro.


Os primeiros quadrinhos do mundo eram publicados em jornais nos suplementos semanais. Posteriormente, passaram a frequentar as tiras diárias. Essas primeiras histórias eram essencialmente humorísticas. Os quadrinhos estilizados (personagens caricaturais e desenho satírico) e humorísticos foram predominantes no período de 1900 até 1920.


No final da década de 1920, surgem os quadrinhos de aventura. Com essas histórias, as HQs ganharam uma tendência mais naturalista, assim os desenhos passaram a representar de maneira mais fiel as pessoas, os objetos e os cenários , causando assim, mais impacto no público leitor. Um bom exemplo disso são as histórias de Buck Rogers (1928) e as tiras de Tarzan, que começaram a ser publicadas no dia 7 de janeiro de 1929 com desenhos de Hal Foster.


Na década de 1930, considerada o auge das HQs, vimos o aparecimento de histórias policiais, de ficção científica, as de guerra, de cavalaria, as de faroeste, super-heróis, etc. Como exemplos dessa época temos: Mickey de Walt Disney, Ub Iwerks e Win Smith (1930), Flash Gordon de Alex Reymond (1934), Superman de Jerry Siegel e Joe Shuster (1938), Batman de Bob Kane e Bill Finger (1939) e The Spirit de Will Eisner (1940).


No início dos anos 1940, vimos o surgimento de diversos super-heróis que conquistaram vários leitores, e, consequentemente ajudaram a ampliar o consumo de Hqs. Entre os heróis desta época podemos destacar: Capitão Marvel, o atual Shazam criado por C.C. Beek e Bill Parker em 1939, Namor criado por Bill Everett em 1939, Flash criado por Gardner Fox e Harry Lampert em 1940, Sociedade da Justiça da América criada por Sheldon Meyer e Gardner Fox em 1940 (foi a primeira equipe de super-heroís dos quadrinhos), Aquaman criado por Paul Norris e Mort Weisinger em 1941, Mulher Maravilha criada por Wiillian Moulton Marston, Elizabeth Marston, Olive Byrne e Harry G. Peter em 1941, Arqueiro Verde criado por Mort Weisinger e George Papp, Capitão América criado por Joe Simon e Jack Kirby em 1941 e vários outros.


Após o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), apareceram as histórias de suspense e terror que enfocavam temáticas de gostos duvidosos e traziam representações muito realistas. Essas HQs tornaram-se muito populares entre os jovens. Aqui, vale destacar Tales from the Crypt (Contos da Cripta), história que começou a ser publicada em 1950. Outras séries de horror que fizeram sucesso nos anos 1950 foram The Haunt of Fear e The Vault of Horror.


Nos anos 1960, vemos um ressurgimento dos Super-heróis. É nessa época em que os principais personagens da Marvel como o Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Hulk, Thor, Homem de Ferro, X-Men, Demolidor, Vingadores, etc. começam a aparecer. Na DC, antigos heróis são remodelados e novos personagens surgem.


Saindo dos EUA, veremos um pouco da história dos quadrinhos no Velho Continente. Na Europa, os primeiros quadrinhos também eram publicados em jornais. Na década de 1920, aparecem as primeiras revistas dedicadas a publicação de histórias em quadrinhos.


Em 1905, na França, surge a personagem Bécassine, a primeira protagonista feminina das histórias em quadrinhos. Inicialmente, acreditava-se que ela era uma criação de Maurice Languereaue e de Jean-Pierre Pichon, porém, mais tarde, descobriu-se que ela fora criada por uma mulher: a romancista Jacqueline Rivière com desenhos de Joseph Pinchon. As histórias dessa personagem que era uma empregada doméstica que se envolvia em situações engraçadas e divertidas fez bastante sucesso. As tiras da personagem são um ótimo registro dos hábitos e costumes, das relações cotidianas e de gênero do início do século


Podemos destacar Benjamin Rabier que publicou seus quadrinhos em várias revistas francesas e do exterior. Suas histórias continham personagens animais e, por isso, ficou conhecido como o La Fontaine (grande autor de fábulas como a "Lebre e a Tartaruga") das HQs. Entre 1923 e 1939, ele publicou seu personagem mais famoso, Gédéon le canard (Gedeão, o pato) que é considerado por alguns estudiosos como a inspiração para a criação do Pato Donald em 1934.


Em 1929, o belga Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé lança a primeira história de um dos personagens mais conhecidos de todos os tempos na nona arte: Tintim! Este acontecimento foi um ponto de virada para o quadrinho europeu. Outra obra importante para foi Spirou, criado em 1938 pelo francês Rob-Vel, cujo verdadeiro nome era Robert Velter.


O período do Pós Guerra e dos anos finais de 1950 foi bem frutífero para os quadrinistas europeus. Neste momento, vemos o surgimento de Tex de Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Gallepini na Itália em 1948, Gaston Lagaffe criado pelo belga André Franqui em 1957, Smurfs criados pelo belga Peyo em 1958 e Asterix criado pelos franceses René Goscinny e Alber Uderzo em 1959. Podemos destacar os trabalhos de Claire Bretécher como Les Frustrés e Agrippine que abordavam a representatividade feminina e questões de gênero (ela teve uma produção bastante ativa entre os anos 1960-1980) e de Chantal Montellier que começou a produzir seus quadrinhos nos anos 1970. Sua obra é caracterizada por forte engajamento feminista e críticas sociais.


O mercado europeu foi se consolidando e se fortalecendo durante os anos de 1960, 1970 e 1980.


Enfim, com o passar dos anos, os quadrinhos foram aprimorando suas técnicas, apresentando novos e variados temas, tornando-se mais acessíveis, ganhando novos suportes (físicos e virtuais) e, atualmente, são muito populares no mundo inteiro.


Obs: a história do quadrinho nacional será abordada em um outro momento.


Texto produzido com base no livro Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula (organizado por Angela Rama e Waldomiro Vergueiro) e no material didático Uma Breve história das Histórias em Quadrinhos do curso de pós-graduação em Histórias em Quadrinhos das Faculdades EST (escrito por Natania Aparecida da Silva Nogueira)



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