Bora conhecer esta incrível técnica dos quadrinhos
Por: Iuri Biagioni Rodrigues
O tema de hoje é uma técnica bastante interessante utilizada por diversos quadrinistas: o Efeito de Luca. O nome é uma referência ao quadrinista italiano Gianni De Luca (1927-1991).
Nos anos 1970, De Luca produzia uma série policial chamada Commissario Spada onde inovou na diagramação dos quadros e nos layouts de página. Nestas histórias, ele representava personagens num cenário fixo, porém em uma ação contínua.
Alguns anos depois, De Luca receberia o desafio de adaptar três obras do dramaturgo William Shakespeare para a nona arte. Ele deveria fazer as versões em quadrinhos de Hamlet, A Tempestade e Romeu e Julieta. Nessa empreitada, ele aprimorou o estilo que vemos acima, originando o Efeito de Luca.
Em Hamlet, ele deveria transformar cerca de 30 mil palavras em somente 48 páginas de HQ. Para isso, o artista italiano resolveu trazer dinamicidade ao movimento dos personagens desenhando-os repetidas vezes em uma página, criando assim, uma ideia de passagem de tempo e espaço. É isso que caracteriza o Efeito de Luca: desenhar os personagens repetidas vezes para emular o movimento deles pelo cenário e, consequentemente, criar a ideia de passagem de tempo e espaço.
Essa técnica pode ser comparada com plano sequência do cinema, plano que registra uma ação sem cortes, e com peças de teatro, onde os atores andam pelo palco passando por cenários ou tempos diferentes.
Vale lembrar que antes de Gianni De Luca, outros quadrinistas já utilizavam uma técnica similar, entretanto, ainda usando um grid de quadros em suas páginas. Como exemplo disso temos Winsor McCay e Frank King. Como o italiano utiliza esse efeito sem a estrutura de quadros, algo mais inovador e ousado, a técnica levou seu nome. Outros nomes utilizados para se referir à ela são: Super-quadro, multipan, panorâmica, politípico, entre outros.
O uso do efeito De Luca é comum em quadrinhos de super-heróis onde a ação é um elemento central. Vejamos agora alguns exemplos dessa técnica.
Exemplo 1: Página de Elektra Vive por Frank Miller (roteiro e arte) e Lynn Varley (cores)
Exemplo 2: Página de Justice League Dark nº 21 por James Tynion IV, Ramnarayan Venkatesan - ‘Ram V.’ (argumento e roteiro), Álvaro Martínez Bueno (arte), Raul Fernandez (arte-final) e June Chung (cores)
Exemplo 3: Página de Demolidor nº 1 (2011) por Mark Waid (roteiro), Paolo Rivera (arte), Joe Rivera (arte-final) e Javier Rodríguez (cores)
Exemplo 4: Batman nº 12 (série quinzenal de 2017) por Tom King (roteiro), Mikel Janín (arte), Hugo Petrus (arte-final) e June Chung (cores)
Exemplo 5: Página de Gaviã Arqueira nº 2 (2016) por Kelly Thompson (roteiro), Leonardo Romero (arte) e Jordi Bellaire (cores)
Exemplo 6: Página de Asa Noturna nº 87 Tom Taylor (roteiro), Bruno Redondo (arte) e Adriano Lucas (cores)
Exemplo 7: Página de A Idade de Ouro Vol. 1 por Roxanne Moreil (roteiro) e Cyril Pedrosa (roteiro, arte e cores)
Exemplo 8: Página de A Idade de Ouro Vol. 2 por Roxanne Moreil (roteiro) e Cyril Pedrosa (roteiro, arte e cores)
Enfim, com isso percebemos que apesar de ser estática, a linguagem dos quadrinhos sempre criou maneiras criativas e eficazes de emular movimento e ação.
Esse texto foi elaborado com base em duas thread do Twitter sobre o tema. Uma de Sérgio Codespoti do Universo HQ e outra da página estrangeira Exploding Pages . Além disso, o artigo Gianni De Luca & Hamlet: Thinking Outside The Box de Paul Gravett também foi consultado. (Neste trabalho, o pesquisador mostra que pinturas medievais do século XIV já utilizam um efeito semelhante ao Efeito de Luca que se popularizou nos quadrinhos, como podemos ver na imagem abaixo).
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