Crítica | "Duna: Parte 2" (2024)
- Igor Biagioni Rodrigues
- 25 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de fev.
O épico sci-fi religioso de Denis Villeneuve.
Por Igor Biagioni Rodrigues.

Recentemente, é difícil encontrar um blockbuster digno dessa denominação. Um filme grandioso em todos os aspectos, seja em orçamento, elenco, efeitos especiais e com uma história realmente decente. É aí que os dois filmes do diretor canadense que adaptam a obra de Frank Herbert entram em jogo. Se muitas pessoas não gostaram da primeira parte de “Duna” e a classificaram como um trailer de mais de duas horas, a parte dois vem para calar qualquer reclamação do gênero.
Discordo totalmente da afirmação que comentei acima sobre “Duna: Parte Um”. Acho a primeira parte um ótimo filme, com uma boa construção de mundo e, principalmente, pelo estudo de personagem de Paul Atreides (Timothée Chalamet, que está excelente no papel nesta continuação). Esse estudo continua sendo desenvolvido e é até mesmo elevado nesta segunda parte, por mais que o filme ganhe mais contornos de ação.
Talvez o que possa ser considerado um quesito negativo seja que, nesse intuito de explorar ainda mais Paul, trazendo uma diluição da visão de herói que ele tinha, alguns personagens sejam escanteados para que ele ganhe foco. Exemplos disso são o Imperador Shaddam IV (Christopher Walken), a Princesa Irulan (Florence Pugh), o sobrinho do Barão, Feyd-Rautha Harkonnen (Austin Butler), Rabban (Dave Bautista), o próprio Barão Harkonnen (Stellan Skarsgård) e Gurney Halleck (Josh Brolin), que é trazido de volta à narrativa de uma maneira bem apressada e pouco explicada. Até mesmo Jessica (Rebecca Ferguson) deixa de ter uma participação maior, como tinha na primeira parte, para que Chani (Zendaya) e Stilgar (Javier Bardem) sejam os parceiros mais efetivos de Paul.

Outro fator que pode ser considerado motivo de crítica é que a parte política não possui muito peso. Mas não vejo isso com maus olhos, justamente porque a decisão aqui é trazer mais a perspectiva religiosa da situação, que envolve uma futura Guerra Santa. É muito interessante como os pontos de vista em relação ao personagem de Chalamet são trabalhados. Ele é realmente o messias das profecias dos Fremen ou apenas uma peça em um jogo de manipulação política e genética que ocorre há anos? Stilgar acredita veementemente no messianismo de Atreides, e a forma como o personagem serve de alívio cômico, funcionando como uma crítica ao fanatismo religioso e à fé cega, é um dos vários pontos altos dessa abordagem. Também temos Chani, numa boa atuação de Zendaya, que não acredita nisso tudo, vê o verdadeiro homem por trás dessas supostas profecias e também o ama (no seu caso, romanticamente falando). E, bem, até mesmo o próprio Paul se enxerga de maneira cética a princípio, porém, com o passar do tempo, começa a aceitar o papel que lhe foi imposto e, o pior de tudo, aparentemente passa a gostar do que faz.
No que diz respeito ao design de produção, desenho de som e fotografia do longa, não posso fazer nada além de rasgar elogios. A fotografia transforma os desertos de Arrakis em um lugar exuberante, e a iluminação alaranjada transmite o calor daquele planeta distante. Tudo isso, somado à criação de sons e à utilização de uma trilha sonora (magistralmente composta por Hans Zimmer) que se mescla com a própria ambientação sonora, contribui ainda mais para a parte fundamental desse filme: a imersão. Assistir a “Duna: Parte Dois” é como ser transportado para um outro universo extremamente real durante mais de duas horas e quarenta minutos de duração e esquecer do mundo lá fora.

Em suma, “Duna: Parte 2” é simplesmente épico. Sim, existe uma redução de temas e um "escanteamento" de personagens, mas nada que comprometa a maravilha do espetáculo cinematográfico que esse filme entrega. Não apenas em quesitos técnicos, que são deslumbrantes, mas pelo simples fato de ser um blockbuster que não se apoia apenas em computação gráfica e está disposto a contar uma história, com personagens interessantes, construindo um mundo fantástico e totalmente imersivo. Este é um daqueles filmes que, assim que terminam, deixam a sensação de que você acabou de contemplar algo gigantesco, tamanho é o peso dessa ópera espacial que é a odisseia de Paul Atreides pelos olhos de Denis Villeneuve.
Para quem só se importa com números:
Nota- 8/10.
Ficha Técnica:
Título original: Dune: Part Two
País de origem: Estados Unidos
Roteiristas: Denis Villeneuve, Jon Spaihts, baseado no romance "Duna" de Frank Herbert
Direção: Denis Villeneuve
Classificação: 14 anos
Duração: 166 minutos
Elenco:
Timothée Chalamet como Paul Atreides
Zendaya como Chani
Rebecca Ferguson como Lady Jessica
Josh Brolin como Gurney Halleck
Austin Butler como Feyd-Rautha Harkonnen
Florence Pugh como Princesa Irulan Corrino
Javier Bardem como Stilgar
Christopher Walken como Imperador Shaddam Corrino IV
Léa Seydoux como Lady Margot Fenring
Stellan Skarsgård como Barão Vladimir Harkonnen
Dave Bautista como Glossu "Beast" Rabban Harkonnen
Souheila Yacoub como Shishakli
Anya Taylor-Joy como Alia Atreides
Parabéns Igor Biagioni Rodrigues! Excelente texto em sua Crítica!
Belíssima crítica de Igor Biagioni Rodrigues. Redação textual perfeita, opiniões sobre o filme com argumentações convincentes. Demonstra belíssima capacidade intelectual. Côn. Bino