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Foto do escritorIuri Biagioni Rodrigues

Crítica: Tina Respeito

Atualizado: 4 de mar. de 2023

Tina contra o assédio em um quadrinho cheio de sensibilidade

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Tina Respeito foi lançado em setembro de 2019 e é o 24º álbum do selo Graphic MSP, projeto editorial da Mauricio de Sousa Produções iniciado em 2012 que tem a finalidade de contar histórias dos personagens clássicos de Mauricio de Sousa através de uma nova geração de talentos do quadrinho nacional. Além disso, as HQs desse selo abordam temas mais adultos. No caso de Tina Respeito, temos a catarinense Fefê Torquato no roteiro e na arte, abordando como tema um grave problema que, infelizmente, muitas mulheres precisam enfrentar: o assédio sexual.


Tina foi criada nas tirinhas de Mauricio de Sousa em 1964. A personagem tinha um estilo hippie e falava com muitas gírias da época. Em fevereiro de 1970, ela fez a sua primeira aparição (junto coma a sua turma) na Folhinha de São Paulo #337. Com o passar dos anos, a personagem perdeu o aspecto hippie, mas nunca deixou de ser uma representante da juventude e uma mulher independente. Nas histórias lançadas a partir de 2014, Tina tornou-se uma estudante de Jornalismo. Todos esses elementos foram bem aproveitados e compõem a Graphic Novel de Fefê Torquato. Deste modo, a quadrinista soube atualizar a personagem, mas sem tirar a essência dela.


Aqui, vemos Tina como uma jovem mulher (22 anos) que está entrando no mercado de trabalho. Ela é uma jornalista que ganhou destaque trabalhando em um blog independente e que, agora, vai trabalhar na redação de um jornal conceituado. Assim, ela terá uma nova rotina, colegas de trabalho, chefes e enfrentará um desafio enfrentado por muitas mulheres em seu ambiente de trabalho. (O já citado assédio).


O chefe assediador de Tina.

O chefe de Tina, Jairo Figueiredo, é um premiado jornalista e é um ídolo da personagem, mas convivendo com ele, a protagonista percebe que ele não é o que parece. Jairo assedia Tina diversas vezes ao longo da história e ameaça a carreira da personagem caso ela não ceda ao seu "charme e seus gracejos". O roteiro trabalha esses acontecimentos muito bem, com seriedade, maturidade e inteligência. Tina é uma protagonista forte que não é definida pelos seus problemas, mas pelas suas ações. O quadrinho também mostra como é a vida da personagem ao lado da família e amigos, para além do trabalho. Esses alguns dos aspectos positivos do roteiro.


Outro ponto que merece destaque é que apesar de o assédio ser o foco da narrativa, ela não se prende somente a ele. Fefê Torquato traz novos (Kátia) e antigos (Rolo, Pipa e Zecão) personagens que são bem trabalhados e que possuem participações memoráveis, vemos ótimos diálogos (destaco uma longa conversa entre Tina e sua mãe) e outros temas como amizade, diversidade, acolhimento, racismo, sexualidade e aceitação do corpo sendo abordados também. Gostaria de mencionar brevemente uma sequência que mostra a insegurança e o medo que muitas mulheres enfrentam ao andar sozinhas nas ruas, pois é muito bem feita.

Um pouco da participação de Pipa e Rolo


Um dos melhores momentos dessa Graphic MSP. (Foi a passagm que citei no parágrafo anterior)

Como ponto negativo, mas que não atrapalha a experiência de leitura, cito que algumas ações e decisões de Tina podem parecer um pouco fáceis e idealizadas demais. Ademais, temos algumas passagens, principalmente, na parte final que ficaram um pouco corridas, na minha opinião. (Não vou dar mais detalhes para não prejudicar a experiência de quem for ler, mas reforço: não é nada que atrapalha muito a história.)


A arte de Fefê Torquato é um dos pontos altos da HQ. Seu traço é leve, ágil e cheio de movimento, suas cores em aquarela são belíssimas e tudo isso contribui para uma narrativa visual dinâmica e bastante fluida. A distribuição dos quadros nas páginas e a posição dos balões também são bem interessantes e ajudam a tornar a leitura mais gostosa e divertida.


Ainda sobre a arte, vemos que Torquato brilhou no design e retratação da personagem. Comumente, Tina era representada de uma maneira mais sensual e com curvas acentuadas, no entanto neste trabalho não vemos isso. Aqui, Tina chama a atenção por sua personalidade, expressões faciais (que são muito bem trabalhadas diga-se de passagem) e postura, não por atributos físicos.


O melhor diálogo da história é este entre TIna e sua mãe. É interessante notar que a mãe da personagem é representada com o mesmo visual de Tina em sua primeira aparição. (Ótima referência)

O quadrinho nos traz uma mensagem bastante atual, valoriza a figura da mulher e sua luta e nos mostra o quanto a nossa sociedade precisa melhorar. Assim, Tina Respeito é uma ótima história que aborda um tema sério de uma maneira inteligente e com bastante sensibilidade.


Para que só se importa com números:

Nota: 8/10


Dados da HQ:

Roteiro: Fefê Torquato

Arte: Fefê Torquato

Cores: Fefê Torquato

Editor: Sidney Gusman

Editora: Panini

Nº de Páginas: 96


Prêmios vencidos por Tina Respeito:

HQ Mix (2020): Melhor Publicação Juvenil

HQ Mix (2020): Roteirista Nacional - Fefê Torquato

Angelo Agostini (2020 - Prêmio entregue em 2021por causa da pandemia): Melhor Roteirista - Fefê Torquato



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