Uma HQ que é um ótimo documento histórico sobre a vida dos refugiados.
Por: Iuri Biagioni Rodrigues
Uma temática bastante atual e que é fonte de debate entre diversos países no mundo é a questão dos refugiados. Sabemos que o número de pessoas que precisam sair de seus países devido a conflitos bélicos, questões políticas, problemas socioeconômicos, entre outras coisas aumenta a cada ano e que elas passam por diversas dificuldades nas suas buscas por uma vida melhor. O quadrinho A Sala de Espera da Europa - uma história de refugiados da quadrinista holandesa Aimée de Jongh (roteiro e arte), fala exatamente sobre isso. A obra foi lançada na Europa em 2017 e chegou no Brasil em janeiro de 2023 através do selo HQ Para Todos da Editora Conrad. A tradução é de Andressa Lelli.
Antes de falar sobre o quadrinho, vale lembrar quem são os refugiados. De acordo com Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), refugiados são: "São pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados." No mundo, são 25,4 milhões de pessoas vivendo nessa situação. E é sobre algumas delas que de Jongh falará em sua reportagem em quadrinhos.
Em outubro 2017, a artista, acompanhada de duas colegas, viajou para um campo de refugiados chamado Kara Tepe em Lesbos, na Grécia (a iniciativa foi tomada por ONG que atua no local). Lá, fotografar e/ou filmar é proibido, mas desenhar não é, portanto aqui está a importância desse quadrinho: a obra retrata elementos como as moradias, banheiros, locais de refeição, meio ambiente entre outras coisas que não podemos ver na imprensa tradicional por causa das proibições. Além disso, o acampamento que vemos na história não existe mais, logo A Sala de Espera da Europa já ganhou o status de fonte histórica, pois é um dos poucos registros que temos de Kara Tepe , do cotidiano e das dificuldades enfrentadas por quem vivia ali.
A história de Aimée de Jongh é curta. São apenas 25 páginas, porém, como diz um velho ditado: quantidade não quer dizer qualidade! Essa frase é bem válida para esta história em quadrinhos, porque mesmo tendo poucas páginas, ela é muito inteligente, precisa e eficaz em sua proposta. Por meio dela, nos sentimos dentro do campo (méritos para o trabalho de arte bem detalhista da quadrinista), podemos conhecer e ver como pessoas de diversas faixas etárias e etnias vivem, quais são seus anseios, problemas, dificuldades e, principalmente, seus sonhos e esperança de ter uma vida melhor. Vemos uma narrativa tocante que nos sensibiliza, nos leva a refletir e pesquisar mais sobre este tema que muitas vezes não recebe a nossa devida atenção e nem da mídia tradicional.
Por meio desta história, de Jongh dá visibilidade e lugar de fala para pessoas que são excluídas e marginalizadas, nos lembra da importância dos direitos humanos, de olhar para as injustiças e desigualdades existentes no nosso planeta.
Em relação ao trabalho de arte, vemos que Aimée retrata muito bem o cenário e o ambiente do campo de refugiados, o traço é bastante expressivo e valoriza as emoções humanas e as cores utilizadas ajudam a demonstrar o local e a situação das pessoas que vivem ali.
A Sala de Espera da Europa é um ótimo e tocante quadrinho que merece ser lido, discutido, analisado e pesquisado por muitas pessoas. A obra já é um documento histórico e um registro para abordar a questão da crise humanitária que vivemos e que infelizmente, parece longe de acabar.
Curiosidade: a maior parte de imigrantes que saem de países como Síria, Iêmen, Afeganistão e Líbia chegam na Europa através da Grécia, país que continha campos para receber refugiados. Assim, muitos imigrantes eram obrigados a esperar por no mínimo um ano para entrar no Velho Continente. Por isso, a Grécia ficou conhecida como a sala de espera da Europa e daí vem o título da HQ.
Para quem só se importa com números:
Nota= 8/10
Dados da HQ:
Roteiro: Aimée de Jongh
Arte: Aimée de Jongh
Cores: Aimée de Jongh
Tradução: Andressa Lelli
Letras: Denis Takata
Editores no Brasil: Guilherme Kroll, Marina Taki e Cassius Medauar
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