Desconfiança por todos os lados...
Por Igor Biagioni Rodrigues
Contém Spoilers.
O quinto episódio de Andor decide continuar deixando a ação de lado afim de trabalhar seus personagens, suas relações entre si e com o universo que os rodeia. Isso pode fazer com que achem que a série caminha devagar e se perguntem onde está a ação. Mas é aí que eu discordo, pois trabalhando bem todos os núcleos e o mundo em que as personagens estão, a ação terá um peso bem maior.
Com isso em mente, esse episódio trabalha o desenvolvimento de seus personagens através de diálogos e situações cotidianas que nos mostram as motivações e pensamentos de todos. Cassian demonstra inteligência e sagacidade (capacidades muito importantes para uma rebelião), por exemplo ao notar rapidamente com que mão cada um daquele grupo atira (quem é canhoto ou destro), o significado da tatuagem de Skeen e como sair com o transporte depois do roubo. Nos é mostrado através da conversa de Skeen com Andor que ele está ali por ser uma vítima da opressão imperial. Também com um diálogo entre o protagonista e Karis, descobrimos que o jovem está ali puramente pelo idealismo de lutar e se rebelar contra um sistema como o Império, o mesmo está até escrevendo um manifesto rebelde (um texto de natureza dissertativa demonstrando um ponto de vista de um grupo, servindo aqui como uma construção de consciência do movimento rebelde). No entanto, o desenvolvimento dos personagens não estaciona apenas no núcleo principal, pelo contrário. Em uma cena de um café da manhã entre Syril Karn e sua mãe, conseguimos aprender com o personagem que ele é um homem mimado e afetado pelo próprio Império, mas que culpa Cassian por tudo que lhe aconteceu. Já, diretamente no núcleo imperial, vemos Dedra tomar comprimidos, uma cena que parece banal, mas que nos mostra o quão envolta ela está no seu trabalho e o quanto aquilo a desgasta. Por último, através de um diálogo entre Mon Mothma e seu marido, em que ela reclama por ele não chamar os funcionários pelos seus nomes, vemos que ela é uma mulher que sabe de sua posição em uma classe elevada, porém que luta por aqueles que estão abaixo dela socialmente. Todos esses personagens estão onde estão, pois foram afetados pelo Império. Alguns não enxergam isso, mas a maioria sim, como o título desse episódio diz: “O machado esquece”, mas “A árvore recorda” (provérbio africano).
E o aspecto mais interessante desse episódio é o espelhamento dos núcleos gerados a partir de um sentimento: Desconfiança. Os rebeldes não confiam em Cassian, principalmente pelo fato dele ele ser um mercenário e estar na missão pelo dinheiro, não pela causa em si. Dedra desconfia de um movimento rebelde que pode vir a gerar grandes problemas para o Império,só que ela acredita que o mesmo não dá a devida atenção ao fato. Mon Mothma não confia em seu marido, que aparentemente faz de tudo para atrapalhá-la, vide o jantar marcado com senadores de opiniões opostas às dela e a sua discussão com a filha, que tem apoio do pai. E, temos também a desconfiança de Luthen para com a missão devido ao fato de que ele acredita que se expôs demais colocando Andor no serviço. Toda essa desconfiança é construída com ajuda de uma fotografia seca e fria e de uma trilha sonora inquietante.
Sendo assim, o quinto episódio de Andor não tem cenas de ação, mas traz uma construção e um detalhamento de personagens feitos com tanto esmero que encanta. É uma forma de contar uma história que eu nunca tinha visto em Star Wars, que continue sendo assim.
Para quem só se importa com números:
Nota- 9/10
Ficha técnica:
Título original: Andor.
Direção: Sussana White.
Roteiro: Dan Gilroy.
Classificação: 14 anos.
País de origem: Estados Unidos.
Duração: 46 min.
Elenco:
Diego Luna como Cassian Andor.
Stellan Skarsgård como Luthen Rael.
Kyle Soller como Syril Karn.
Genevieve O’Reilly como Mom Mothma.
Denise Gough como Dedra Meero.
Faye Marsay como Vel Sartha.
Kathryn Hunter como Eedy Karn.
Sule Rimi como Lieutenant Gorn.
Gershwyn Eustache Jnr como Taramyn Barcona.
Ebon Moss-Bachrach como Arvel Skeen.
Alex Lawther como Karis Nemik.
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