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  • Foto do escritorIgor Biagioni Rodrigues

Crítica: "Assassinos da Lua das Flores" (2023)

Uma história banhada em sangue e petróleo.

Por Igor Biagioni Rodrigues.



É emocionante viver na mesma época que figuras históricas e importantes do meio artístico que tanto amamos. Scorsese é isso, parte da História do Cinema viva na nossa frente, e aos seus oitenta anos, nos ensinando e mostrando o que essa arte possui de melhor. “Assassinos da Lua das Flores” é mais um exemplo disso.


O filme é uma adaptação do livro-reportagem histórico de mesmo nome, escrito por David Grann e lançado em 2017. O jornalista juntou informações e materiais durante dez anos de pesquisa para contar a história do massacre sofrido pelos nativos da nação Osage, em Oklahoma, depois de descobrirem que suas terras possuíam petróleo em abundância. O longa originalmente possuía uma versão diferente da que foi para as telas. A ideia inicial era contar sobre a formação do FBI e a investigação sobre o massacre, mas devido à pandemia do COVID-19, as gravações foram adiadas e Martin Scorsese, durante o isolamento, reescreveu o roteiro, transformando-o num conto de faroeste macabro, recheado de drama, contando o horror dos nativos e tendo como ponto de vista os assassinos.



Através de um início bastante corrido, e não digo isso de forma ruim, já conseguimos entender toda a dinâmica do longa através da apresentação de seus personagens. Ernest (na boa atuação de Leonardo DiCaprio) é adaptável ao seu trabalho, é maleável, manipulável, pouco inteligente, mas ao mesmo tempo bastante esperto e, acima de tudo, ama dinheiro. Bill (na ótima performance de Robert De Niro) é um homem que busca incessantemente por lucro, líder nato e extremamente inteligente, que se vangloria de saber o idioma do povo Osage e de ter boas relações com eles (mas só o fez para conseguir ir bem nos negócios).


Interpretada magistralmente por Lily Gladstone, temos Molly, uma indígena da nação Osage, que tem o difícil trabalho de representar um povo inteiro em tela, e o faz com maestria. Ela traz uma frieza contemplativa, mas não passiva, constrói uma personagem resiliente e inteligente. Ao longo da película, Molly é mostrada através de close-ups, e com um olhar penetrante mas ao mesmo tempo distante, e às vezes com um sorriso quase discreto e sarcástico, não conseguimos entender o que se passa na sua cabeça, mas sabemos que ela observa tudo.


Todo filme pode ser resumido em uma cena (e que cena!): o jantar entre Molly e Ernest. Os dois vão começar a beber, quando começa a chover. Molly contempla a natureza e seu poder, enquanto Ernest não para quieto numa ânsia de sede, que reflete a diferença entre os dois povos, um ligado às tradições, mas que também foi afetado pelo sistema imposto a eles, e um sempre ganancioso e inquieto.



Existem alguns aspectos que possuem grande significado no filme. Os carros vão demonstrando como o consumo era forte naquele contexto, carros estes movidos a gasolina (derivado do petróleo), comércios, casas de apostas e uma população cada vez mais branca e afetada pelo capitalismo. E em contraposição, o idioma originário dos Osage é utilizado para nos mostrar que, apesar de estarmos do lado desse povo, também somos invasores, assim também é o próprio diretor. Afinal, apesar de consumirmos essa obra como arte, também consumimos monetariamente.


Tecnicamente o filme é incrível. O design de produção nos encanta do início ao fim, com os figurinos, os objetos em cena e toda a ambientação. Ambientação essa que é reforçada pela belíssima fotografia (Rodrigo Prieto) e trilha sonora do finado Robbie Robertson (este foi seu último trabalho, inclusive).


O roteiro traz elementos que colocam o filme num contexto maior, trazendo o Massacre de Tulsa (em 31 de maio de 1921, multidão de brancos invadiu e destruiu o distrito de Greenwood, que na época era uma das comunidades negras mais prósperas do país) e a presença da Ku Klux Klan, mostrando que os acontecimentos ali presentes não eram isolados, e ocorriam em todo o país, um país em que o governo se colocava mais próximo dos opressores do que dos oprimidos.


A montagem (comandada por Thelma Schoonmaker) não nos traz um filme linear, e nem mesmo de apenas um estilo. Começamos em um faroeste sinistro, depois vamos para o que parece um filme policial para encerrarmos num clássico filme de tribunal.


Em suas quase três horas e meia de duração, o filme não cansa. Ele demonstra ser uma aula de narrativa e uma denúncia de um tema complexo, um massacre de um povo que quase foi esquecido. Retrata também como o progresso está fortemente ligado à ganância e morte.


Para quem só se importa com números:

Nota- 10/10.


Ficha técnica:

Título Original: Killers of the Flower Moon

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro: Martin Scorsese, Eric Roth (baseado na obra de David Grann)

Direção:Martin Scorsese

Duração: 306 min.

Classificação: 14 anos


Elenco:

Jesse Plemons como Thomas Bruce White, agente do FBI investigando Hale

Tantoo Cardinal como Lizzie Q, mãe de Mollie

Brendan Fraser como W. S. Hamilton, advogado corrupto de Hale

John Lithgow como Promotor Leaward

Cara Jade Myers como Anna Brown, irmã de Mollie

JaNae Collins como Reta, irmã de Mollie

Jillian Dion como Minnie, irmã de Mollie

William Belleau como Henry Roan, cunhado de Mollie

Scott Shepherd como Bryan Burkhart

Louis Cancelmi como Kelsie Morrison

Jason Isbell como Bill Smith

Sturgill Simpson como Henry Grammer

Ty Mitchell as John Ramsey

Tatanka Means como John Wren

Michael Abbott Jr. como Frank Smith

Pat Healy como John Burger

Gary Basaraba como William J. Burns

Steve Eastin como Juiz John Calvin Pollock

Barry Corbin como Agente funerário Turton

Katherine Willis como Myrtle Hale

Gene Jones como Pitts Beatty

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