O quão ruim pode ser um feriado?
Por: Iuri Biagioni Rodrigues
Batman O Longo Dia das Bruxas é uma minissérie lançada originalmente entre 1996 e 1997. O roteiro é Jeph Loeb, os desenhos são de Tim Sale e as cores ficaram por conta de Gregory Wright.
Esta história se passa no início de carreira do Batman, então, aqui vemos um Cavaleiro das Trevas mais falho, com mais dificuldades, agindo de maneiras que não são típicas do Batman maduro que estamos acostumados e fazendo parcerias inusitadas.
A trama abrange um período que vai do Halloween de um ano até o Halloween do próximo ano. (Por isso o título de O Longo Dia das Bruxas - The Long Halloween no original). Nesse intervalo de um ano, Batman, Comissário Gordon e o promotor Harvey Dent (futuro Duas-Caras), buscam por um assassino que comete crimes em datas importantes do calendário estadunidense como: Halloween, Dia de Ação de Graças, Natal, ano novo, Dia de São Valentim (dia dos namorados), Dia de São Patrício, Dia da Mentira, Dia das Mães, Dia dos Pais, Independência, Dia do Trabalho e Dia de Colombo. Assim, O criminoso recebe o nome de Feriado (no original, Holiday).
Inspirados na ideia do editor Archie Goodwin, Loeb e Sale criaram uma história inspirada nos filmes Noir que é cheia de suspense e investigação. É sempre muito bom ler HQs que trazem o lado detetive do Homem Morcego.
Ao longo da busca por Feriado, o Cruzado Encapuzado encontra diversos vilões de sua galeria como Coringa, Espantalho, Hera Venenosa, Chapeleiro Louco, Charada, Homem Calendário, Pinguim, Solomon Grundy e, claro, a Mulher Gato que ajuda bastante o herói. Além disso, a máfia também tem um papel importante na narrativa. Vemos
os chefões italianos Carmine Falcone e Vincent Maroni e seus familiares tendo destaque. Vale lembrar que as vítimas do assassino são membros das famílias do crime. Em algumas cenas envolvendo os mafiosos, temos boas referências ao filme O Poderoso Chefão.
Apesar da grande quantidade de personagens, Loeb sabe conduzir a narrativa muito bem. Portanto, o excesso de vilões não é prejudicial, pois todos cumprem uma função no enredo. O roteiro também sabe trabalhar muito bem o mistério e traz boas reviravoltas, ou seja, a todo momento queremos saber quem é o Feriado e o que vai acontecer na sequência.
Os títulos das 13 edições da história são os nomes de alguns feriados e dentro da trama de cada edição vemos algumas analogias com o que essas datas representam ou comemoram. Nos títulos, também vemos uma referência ao clássico romance Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski, uma vez que a primeira edição é intitulada "Crime" e a última, "Castigo".
O roteirista também desenvolve muito bem os personagens. Aqui, podemos destacar o protagonista, pois Loeb usa recordatórios para demonstrar os pensamentos do Batman e, desta maneira, nós entramos na mente dele e vemos seus conflitos internos, ideias planos, frustrações, etc. O arco de Harvey Dent, dedicado procurador que vira o Duas-Caras, é muito bem construído e o momento desta transformação é impactante. O arco do Comissário Gordon com seu dilema de equilibrar trabalho e família é bem bacana. Mulher Gato também tem a sua importância. A dinâmica Bruce Wayne e Selina Kyle, que desconhecem as identidades secretas do outro, é bem interessante.
Apesar disso, o escritor tem um "deslize" na hora de resolver a história e apresentar a identidade de Feriado (ou melhor, dos Feriados). A revelação fica um pouco corrida e desagradou alguns leitores, pois não tínhamos nenhuma pista de que seria aquela pessoa.
A arte de Tim Sale é um dos pontos mais altos do quadrinho. O desenhista traz um estilo cartunesco, muita emotividade e expressividade para os personagens, ótimas composições de quadro através dos cenários, detalhes e cenas de ação, layouts de página que são bem dinâmicos e com belas páginas duplas.
As cores Gregory Wright são fortes e escuras, facilitando assim o clima de suspense e tensão que vemos na narrativa. O colorista também faz um ótimo uso das cores para dar um certo destaque para um personagem (principalmente, em cenas com o Batman) ou trazer um contraste de algum elemento, como na cena em que Batman está no túmulo de sua, onde vemos o brilho do túmulo que vem da lua que está atrás de nuvens. As cenas dos assassinatos também possuem um ótimo trabalho de cor, pois são majoritariamente em preto e branco. Apenas o presente deixado por Feriado é colorido. Isto reforça o clima Noir da história.
O Longo Dia das Bruxas é uma ótima história do Batman e é ideal para novos leitores que desejam conhecer mais sobre o Morcego de Gotham. Esta história é muito bem construída, possui boas cenas de ação, belos desenhos, consegue prender os leitores, traz um Batman mais humano e é bem divertida.
Para quem só se importa com números:
Nota: 8/10
Prêmios vencidos por O Longo Dia das Bruxas:
Eisner (1998): Melhor Minissérie
Eisner (1999): Melhor Graphic Novel (reimpressão)
Dados da HQ:
Roteiro: Jeph Loeb
Desenhos: Tim Sale
Cores: Gregory Wright
Editora original: DC comics
Editoras no Brasil: Eaglemoss (em duas partes) e Panini (edição definitiva)
Tradução e Adaptação (Eaglemoss): DVL/HC, Mario Luiz C. Barroso e Carlos Henrique Rutz.
Revisão (Eaglemoss): Melissa Correa e Giacomo Leone Neto
Editor: Thiago Hara Dias
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