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Foto do escritorIgor Biagioni Rodrigues

Crítica: “Coringa” (2019)

Os incels não entenderam a punch line…

Por Igor Biagioni Rodrigues.


Na época de seu lançamento, muito se falou sobre o quanto esse filme era “polêmico” e que nele ocorria uma glorificação da violência. Sinceramente, e digo isso com todo o respeito, quem pensa assim não entendeu o filme.


Mas... vamos por partes. Em "Coringa", conhecemos a origem do mais famoso vilão dos quadrinhos (quiçá da cultura pop) através das mãos do diretor Todd Phillips ("Se Beber, Não Case!"). Arthur Fleck é uma pessoa solitária no mundo, vivendo em uma Gotham City cada vez mais polarizada politicamente entre os pobres e os mais favorecidos economicamente (os ricos, né?). Ele mora com sua mãe, de quem cuida, e tenta ganhar a vida trabalhando como palhaço. Muitas vezes, é agredido e ridicularizado. Além disso, sofre de um transtorno chamado afeto pseudobulbar, que faz com que ele tenha crises de riso incontroláveis. Certo dia, Arthur comete um assassinato e, a partir daí, sua vida e comportamento mudam drasticamente.


Certo, agora vamos para fora do filme. A internet permitiu que muitas coisas se espalhassem e crescessem, inclusive o preconceito em suas diversas formas. No entanto, pretendo focar em um em particular: a misoginia. Ao longo do tempo, grupos masculinos que pregam ódio às mulheres cresceram no meio online. Entre eles, estão os que se autodenominam incels. O termo é uma abreviação de "involuntary celibates" e descreve homens que se definem como "celibatários involuntários". Eles culpam as mulheres por sua falta de relações sexuais e apoiam a violência contra qualquer grupo sexualmente ativo, incluindo as comunidades LGBTQIAPN+. Além disso, esses grupos estão fortemente ligados ao fortalecimento de discursos de extrema-direita e olhem só, escolheram alguns certos personagens para enaltecer, e entre eles...

Agora que contextualizamos o filme e o mundo atual, volto a afirmar que, por mais violento que seja, não há uma glorificação da violência, muito menos como resposta a problemas sociais. Esse Coringa não foi criado para ser um símbolo para os incels, mas para criticar justamente as pessoas que idolatram o Coringa. Não há endeusamento da violência, como muitos disseram; tudo não passa de um grande espetáculo narcisista por parte de um personagem que se vê como o centro das atenções, um palhaço em um show de horrores que usa a sociedade e um sistema fragmentado para justificar suas ações. Desde o início do filme, fica claro que os problemas de Arthur vão além dos sociais e são, principalmente, de ordem mental.


O filme reafirma essa mensagem de várias formas, seja através da narrativa, mostrando que o comportamento de Arthur piora e sua violência se intensifica quando seu tratamento é interrompido abruptamente, anotações em seu caderno : “a pior parte de ter uma doença mental, é que as pessoas esperam que você aja como se não tivesse”, seja com frases impactantes ("Eu achava que minha vida era uma tragédia, agora vejo que é uma comédia") ou até mesmo pela questão estética, com as roupas e a maquiagem de Arthur sendo exageradamente saturadas em contraste com uma Gotham sem cor. Novamente, um palhaço querendo ser o centro das atenções.

Há um discurso sobre luta de classes e problemas sociais no filme? Sim. Mas esses temas são usados como uma máscara pelo personagem (assim como ele se esconde na multidão na cena final do metrô). Apesar dos problemas sociais, isso não é o que motiva o Coringa aqui, ou pelo menos não é seu principal motivo. Ele utiliza essas questões para ser o centro do show em uma piada narcisista que não tem graça, e que só ele entende. Até mesmo sua rivalidade com Thomas Wayne, o rico candidato a prefeito que chama os pobres de palhaços, é pessoal.


Assim como Travis Bickle em "Taxi Driver" (1976), o Coringa é fruto de uma sociedade ferida e a machuca ainda mais. Arthur enlouquece? Sim, mas os verdadeiros loucos são aqueles que veem em suas ações as respostas para problemas sociais.


Para quem só se importa com números:

Nota- 8/10.


Ficha Técnica:

Título Original: Joker

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro:  Todd Phillips, Scott Silver

Direção: Todd Phillips

Classificação: 16 anos.

Duração: 122 min.


Elenco:

Joaquin Phoenix como Arthur Fleck/Coringa

Zazie Beetz como Sophie Dumond

Robert de Niro como Murray Franklin

Glenn Fleshler como Randall

Frances Conroy como Penny Fleck

Dante Pereira-Olson como Bruce Wayne

Brian Tyree Henry como Carl

Bryan Callen como Javier

Carrie Louise Putrello como Martha Wayne

Brett Cullen como Thomas Wayne

Douglas Hodge como Alfred Pennyworth

Sharon Washington como Debra Kane

Shea Whigham como Thomas Burke


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