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Foto do escritorIgor Biagioni Rodrigues

Crítica | "Coringa: Delírio a Dois"

A sombra e as amarras do sucesso…

Por Igor Biagioni Rodrigues.

Após os eventos de "Coringa", Arthur Fleck está lidando com as consequências de seus crimes, quando, em uma sessão de terapia musical no Arkham, ele conhece Lee. Agora, Arthur se vê confrontado por seu passado como Coringa enquanto acredita ter finalmente encontrado seu verdadeiro amor.


Uma coisa é certa sobre esse filme: Todd Phillips foi bastante corajoso ao seguir um caminho totalmente diferente do primeiro. "Coringa: Delírio a Dois" é claramente uma sequência caça-níquel que surgiu devido ao sucesso inesperado do primeiro filme. Seja em crítica, bilheteria ou premiações, o primeiro longa teve enorme repercussão. Mas o que fazer após atingir o sucesso?


O prelúdio animado já retrata tudo o que o filme vem a abordar: Arthur tentando lidar com a sombra do Coringa. Ele sempre teve um sonho, ser comediante, mas foi destratado por todos e machucado por um mundo cruel. Em um ato de puro delírio, comete alguns assassinatos, e, aí sim, a fama vem. Contudo, o sucesso não veio da forma que ele sonhava — não por ele ter conseguido se concretizar como artista e fazer as pessoas rirem, mas sim por ter realizado os desejos mais sombrios de uma sociedade doentia.

Os paralelos com a realidade são impressionantes e inegáveis. Todd Phillips e Joaquin Phoenix alcançaram o topo com o primeiro longa: o Oscar veio, a fama veio e suas obras foram reconhecidas. No entanto, o excelente estudo de personagem do primeiro filme foi distorcido, acabando por comover de forma errada um grande número de pessoas que se tornaram "fãs" do Coringa, transformando-o em um ícone cultural e comportamental. Lee, personagem de Lady Gaga, representa essas pessoas que se apaixonaram pela ideia do Coringa e não se interessam pelo homem por trás dele, mas sim pelos seus atos violentos e impactantes. O diretor se sentiu tão impactado com a repercussão que "Coringa" teve em meios extremistas que, em "Delírio a Dois", faz questão de afirmar e reafirmar inúmeras vezes que o Coringa é uma péssima influência.

As pessoas não querem saber de Arthur; elas estão lá pelo Coringa. E o filme não é sobre o Coringa, mas sobre um Arthur que cansou de encarnar o papel que lhe deram. Assim como seu protagonista, Todd Phillips também está cansado desse universo, que deveria ter se encerrado lá em 2019, e decidiu seguir uma via totalmente diferente no segundo longa, optando por fazer um musical. Sim, é um musical, uma vez que as músicas servem como condutoras da narrativa (ou, pelo menos, deveriam servir).

As ideias são boas e interessantes, mas ficam apenas no campo das ideias. O filme é covarde. Desde sua divulgação, durante todo o processo de marketing até sua estreia, ele teve vergonha de se assumir como um musical. Pela parte do marketing, até entendo, já que, infelizmente, musical não é um gênero que agrada ao grande público. Mas o filme em si tenta criar uma mistura de gêneros sem sentido ao decidir transformar a segunda metade em um thriller psicológico.


Joaquin Phoenix está bem no papel; ele é um ator versátil, mas passa longe do brilhantismo que foi sua atuação no original. Em relação a Lady Gaga, sua escolha para um musical foi uma ótima ideia, e a cantora não decepciona na atuação, conseguindo não ser ofuscada por Phoenix. O problema é que sua personagem é mal utilizada na metade final, e ela não possui uma cena musical de grande destaque além das iniciais.


A fotografia e toda a direção de arte são excelentes, mérito de Lawrence Sher e companhia. No entanto, a ambientação é mal trabalhada. A produção possui um orçamento muito maior que o do primeiro filme, porém suas cenas se alternam entre o Asilo Arkham e o tribunal. A execução é truncada, a montagem faz com que o filme se arraste, e as músicas, apesar de bem executadas e visualmente interessantes, são repetitivas, reforçando sempre o que já foi dito pelos personagens. Ao observarmos duas cenas musicais — a primeira, quando Arthur canta no asilo, e a outra, quando Lee canta enquanto "fogem" de lá —, temos um vislumbre do que o longa poderia ter sido, infelizmente acabou sendo um grande desperdício. Além disso, tenho a impressão de que Phillips e companhia fizeram esse filme simplesmente por fazer, assim como Arthur, estavam cansados e queriam explodir tudo. E é o que fazem, tentando criar um final surpreendente e complexo, mas que não possui peso algum.

Em suma, "Coringa: Delírio a Dois" é um filme covarde, que não se assume dentro do gênero fílmico que escolheu, se atrapalha ao tentar misturar musical com drama e desperdiça ótimas ideias de camadas psicológicas extras e de desconstrução do primeiro "Coringa" devido às limitações do próprio diretor. No fim, descobrimos que Arthur era realmente sem graça — assim como esse filme.


Para quem só se importa com números:

Nota- 5/10.


Ficha Técnica:

Título Original: Joker Folie à Deux

País de Origem: Estados Unidos.

Roteiro: Todd Phillips, Scott Silver

Direção: Todd Phillips

Classificação: 16 anos.

Duração: 138 min.


Elenco:

Joaquin Phoenix como Arthur Fleck/Coringa

Lady Gaga como Harleen "Lee" Quinzel

Zazie Beetz como Sophie Dumond

Brendan Gleeson como Jackie Sullivan

Catherine Keener como Maryanne Stewart

Steve Coogan como Paddy Meyers

Harry Lawtey como Harvey Dent

Leigh Gill como Gary Puddles

Jacob Lofland como Ricky Meline


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