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Foto do escritorIuri Biagioni Rodrigues

Crítica DC: A Nova Fronteira

Atualizado: 29 de abr.

Uma ode aos super-heróis!

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

DC: A Nova Fronteira

DC A Nova Fronteira é uma minissérie de 6 edições lançada, originalmente, em 2004. A HQ conta com roteiro e desenhos do canadense Darwyn Cooke, falecido em 2016. As cores ficaram por conta de Dave Stewart.


A história mostra a passagem da Era de Ouro para a Era de Prata dos quadrinhos, ou seja, começa no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e adentra na década de 1950 e início dos anos 1960.


A Nova Fronteira representa muito bem o “Zeitgeist”, o espírito do tempo, dessa época. Aqui, vemos a Guerra Fria e seus desdobramentos como: o macarthismo (período da história dos EUA nos anos 1950, caracterizado pela perseguição e repressão política aos ditos traidores e subversivos. O macarthismo tinha como características as acusações sem provas e a grande perseguição aos comunistas, foi uma espécie de caça às bruxas), a Guerra da Coreia, a corrida espacial, a corrida armamentista e os conflitos na Indochina (No entanto, não espere muita precisão histórica e geográfica, pois o quadrinista tem as suas licenças poéticas). Além disso, vemos temas como a luta pelos direitos civis dos negros, violência contra a mulher e xenofobia sendo retratados na história.


A trama começa logo após o término da 2ª Guerra, em uma ilha do Oceano Pacífico, onde vemos a equipe conhecida como Os Perdedores em uma missão. Lá eles descobrem que o local é bem misterioso e habitado por dinossauros! (Voltaremos nisso mais tarde).


Depois, vemos que a Sociedade da Justiça da América é desfeita, pois o congresso americano passa a considerar os heróis como foras da lei e subversivos. Assim, outros heróis debandam, Batman continua agindo nas sombras e contra a lei, enquanto Mulher Maravilha e Superman trabalham para o governo.

DC - A Nova Fronteira
O fim da Sociedade da Justiça da América - por Darwyn Cooke e Dave Stewart

Logo depois, vemos o desenvolvimento de Hal Jordan, o futuro Lanterna Verde. Aqui, ele é retratado como um ex-combatente da Guerra da Coreia que está traumatizado por ter matado um homem. Mais para frente, veremos Jordan como um piloto de testes da Ferris Aeronáutica.


O próximo herói apresentado é o Caçador de Marte. Ele tem um arco bem interessante nesta história, pois precisa lidar com o medo dos humanos, preconceito, inseguranças, etc. Em A Nova Fronteira, o marciano atua disfarçado como um policial em Gotham City. Na sequência, vemos a origem do Flash (Barry Allen) que protagoniza um dos melhores momentos da Graphic Novel em seu confronto com o Capitão Frio em Las Vegas. Nesta parte, vemos um excelente uso das cores e de linhas cinéticas para dar a ideia de movimento na ação do velocista escarlate.

DC: A Nova Fronteira
Flash vs. Capitão frio por Darwyn Cooke e Dave Stewart - Repare na ótima representação de movimentos destas página

Em uma grande homenagem ao Rei dos Quadrinhos, Jack Kirby, Cooke dá um certo destaque para os Desafiadores do Desconhecido, equipe criada por Kirby em 1957. Eles têm a sua origem narrada e participam ativamente da batalha final.


Um dos pontos altos desse quadrinho, é abordagem do herói Aço (John Wilson) que foi transformado em John Henry para esta história. Henry é um herói do folclore dos EUA. Ele é um afro-americano que trabalhava com uma broca de aço para abrir buracos em rochas para a indústria ferroviária. O John Henry de A Nova Fronteira, também é afro-americano e decide enfrentar o racismo e violência que vitimavam muitos negros nos Estados Unidos, especialmente, no sul deste país. (John Henry é doe Tennessee). Nesse cenário, ele tem como inimigos os membros da Ku Klux Klan.


Um dos grandes acertos de Darwyn Cooke neste trabalho foi não dar tanto destaque para a Trindade da DC, Superman, Batman e Mulher Maravilha. Eles estão lá, têm importância na narrativa, porém não são os grandes protagonistas. Flash, Caçador de Marte, Esquadrão Suicida (não a versão que conhecemos do cinema, mas sim, a versão clássica da equipe que foi criada em 1959), e, principalmente, o Lanterna Verde recebem mais destaque. Além disso, a minissérie conta com a participação de outros heróis como: Pantera, Adam Strange, Demônios do Mar, Falcões Negros, Aquaman, Eléktron, Arqueiro Verde, Ricardito, Espectro, Capitão Marvel (Shazam), Senhor Destino, Zatanna, Vingador Fantasma entre outros.


Devido a grande quantidade de personagens e de vários pequenos arcos, a história tem uma certa lentidão no roteiro, mas não é nada que prejudique muito. Além disso, Cooke utiliza muitas páginas compostas por apenas três grandes quadros horizontais, o que torna a leitura mais dinâmica e fluida. Em outros momentos, o quadrinistas usa páginas inteiras, duplas e pranchas com quadros menores, o que evita a fadiga de um só tipo de layout de página e grid de quadros.


Bom, vemos que A Nova Fronteira traz diversos heróis que vivem em cidades diferentes, que têm visões de mundo distintas, um senso de justiça próprio e um método de ação específico e que ainda são perseguidos pelo governo. Então, o que levaria seres tão distintos a trabalhar em equipe? A resposta é simples: uma grande ameaça!


Mas qual ameaça? Lembra-se da ilha citada no começo da crítica? Então, ela é, na verdade, uma ilha viva que controla pessoas e animais pré-históricos, chamada “O Centro”, que é o grande vilão história. (Ao longo do quadrinho vemos várias pistas disso.) Apesar de uma ilha dinossauro parecer uma escolha bem boba para ser o vilão, ela funciona muito bem, porque faz com que os militares, governo e heróis deixem as diferenças de lado para trabalharem juntos. Além disso, este inimigo lembra muito bem a inocência de certas histórias da Era de Prata. A parte final, onde todos enfrentam “O Centro” é épica e muito divertida!

DC: A Nova Fronteira
Super-heróis, governo, militares e jornalistas trabalhando juntos para salvar o planeta!

Darwyn Cooke é um ótimo desenhista. Ele faz um excelente uso das expressões faciais, pois consegue retratar muito bem os sentimentos dos personagens utilizando-se de traços simples. Suas cenas de ação são muito boas, os signos de movimento são bem utilizados e ele faz um ótimo layout de página.


Dave Stewart, por sua vez, também faz um excelente trabalho de colorização. Suas cores são vivas, trazem ideia de movimento e ajudam no espetáculo visual da HQ. O colorista domina muito bem as técnicas de claro/escuro, sombras e penumbras, cores quentes e frias. Além disso, Stewart deixa as explosões e poderes bem mais impressionantes com suas cores.

DC: A Nova Fronteira
Lanterna Verde salvando a pátria.

DC A Nova Fronteira, é um clássico contemporâneo, uma carta de amor aos fãs dos heróis da DC e uma bela homenagem para a Era de Prata! Esta HQ mostra o lado da esperança, a busca pelo bem, o idealismo dos heróis, traz um calor fraterno e nos mostra que as melhores histórias de super-heróis não precisam ser sombrias e violentas, precisam transmitir a mensagem de buscar um mundo melhor!


Para quem só se importa com números:

9/10


Prêmios Vencidos por Nova Fronteira:

Eisner (2005): Melhor série limitada

Eisner (2005): Melhor Colorista (Dave Stewart)

Harvey (2005): Melhor artista (Darwyn Cooke)

Harvey (2005): Melhor Minissérie

Harvey (2005): Melhor Colorista (Dave Stewart)

Shuster (2005): Melhor Escritor/Artista (Darwyn Cooke)

Eisner (2007): Melhor Graphic Novel (Republicação)

Harvey (2007): Melhor Graphic Novel (Republicação)


Dados da HQ:

Roteiro e arte: Darwyn Cooke

Cores: Dave Stewart

Editora original: DC Comics

Editoras no Brasil: Panini (edição definitiva) e Eaglemoss (2 volumes)

Ano de publicação original: 2004

Nº de páginas: 524 (Panini)

Tradução: Carlos H. Rutz, Jotapê Martins, Mateus Ornellas, Thiago Harras Dias e Bernardo Santana. (Panini)

Adaptação: Mario Luiz C. Barroso, Fabiano Denardin e Rodrigo Oliveira (Panini)

Editores: Bernardo Santana e Thiago Haras Dias (Panini)


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