Crítica | "Demolidor: Renascido – 1X04: Sic Semper Sistema"
- Igor Biagioni Rodrigues
- 8 de abr.
- 3 min de leitura
Controlados pelo Sistema!
Por Igor Biagioni Rodrigues.

O quarto episódio de “Demolidor: Renascido” começa lidando com as consequências da morte de Hector Ayala. E não esconde a intenção da passagem do manto; pelo contrário, a faz de maneira descarada, nos apresentando à sobrinha de Hector, Angela del Toro (Camila Rodriguez), que, nos quadrinhos, é ninguém menos que a Tigresa Branca. Além disso, a cena inicial na prisão também nos mostra a absolvição de qualquer suspeita de que o policial Powell (Hamish Allan-Headley) esteja relacionado com o assassinato de Ayala, uma vez que Matt utiliza seus poderes para escutar os batimentos cardíacos do personagem, que aparentam estar bem calmos. E, por falar nisso, ver Matt usando seus poderes sem estar trajando o manto do Diabo da Guarda, mas sim para resolver casos e situações como civil/advogado, tem sido a melhor parte da série até agora.
Murdock usa, então, seus super sentidos para ir atrás da bala que matou o Tigre Branco e, ao encontrá-la, percebe que há um símbolo nela: uma caveira semelhante à estampada no uniforme de Frank Castle, o Justiceiro. A partir daí, temos o reencontro de Matt com Castle e o retorno de Jon Bernthal como o vigilante. E, para ser sincero, foi bem decepcionante. Não me entendam mal, Bernthal está excelente no personagem, como sempre. O problema é que esse reencontro tão esperado entre os personagens passa longe de ser orgânico. Murdock não desconfia em nenhum momento de que Frank possa estar por trás daquele crime, e o enclausurado — e aparentemente cada vez mais insano — Justiceiro aparece apenas para dar um discurso sobre a morte de Foggy, o que é simplesmente a série dizendo: “olhem só, o Demolidor voltará logo logo!”.
Em contrapartida, temos dois fatos que gostaria de destacar: um sendo o caso que Matt pega e o outro, a tentativa de Wilson Fisk em resolver problemas portuários. Os dois demonstram, de maneira eficiente, aquilo que coloquei no subtítulo deste texto e que simboliza bem o próprio título deste episódio: “Sic Semper Sistema”, uma analogia ao termo em latim sic semper tyrannis, cuja possível tradução seria “sempre assim aos tiranos”. “Tiranos” esses aqui substituídos pelo sistema — um sistema que pouco se importa com as pessoas mais pobres e que é responsável pela criação de um ciclo de injustiças sociais que levam a crimes (sejam eles assassinatos ou furtos de pipocas caramelizadas). É cômico pensar que a maneira como o caso do homem que roubou as pipocas de uma loja de conveniência é debatido com um peso jurídico maior e é mais bem desenvolvido que o julgamento clichê de Hector. E, do outro lado, temos Fisk lidando com as dificuldades de resolver os problemas de uma cidade de grande porte, como Nova York, justamente por causa desse mesmo sistema burocrático que impede que certas coisas avancem.
Continuando: lembram que comentei na crítica do episódio anterior que as cenas de alimentação de Wilson Fisk possuíam um sentido mais amplo? Aqui temos essa confirmação. Após o vermos, anteriormente, através de uma fachada escondida pela alimentação pequena e saudável, aqui o vemos com um jantar digno do Rei do Crime, para nos mostrar sua verdadeira face enquanto ele tortura Adam, o amante de Vanessa (o que explica aqueles machucados em suas mãos) — fato que, provavelmente, ela sabe e espera que esteja acontecendo. Talvez ela tenha traído Fisk justamente para trazer o seu antigo marido de volta. Eu não duvido de nada diante desse relacionamento doentio.

Por fim, temos a introdução do “serial killer artista”, Muse, que, confesso, recebi de maneira relutante, uma vez que a série já caminha para a sua metade, e trazer um vilão mascarado apenas para trazer o Demolidor de volta não é uma das melhores escolhas — ainda mais com todo o intuito político e jurídico que a série poderia desenvolver melhor, uma vez que isso é seu ouro.
Em suma, “Sic Semper Sistema” é um bom episódio, com debates e ideias interessantes, mas com elementos inorgânicos dentro de sua construção narrativa — fruto de a série ter sido produzida de uma maneira e, depois, ter sido alterada, criando essa colcha de retalhos que não é ruim, mas tem muito mais potencial do que vimos até agora.
Para quem só se importa com números:
Nota- 6/10.
Ficha Técnica:
Título Original: Daredevil: Born Again 1X04: Sic Semper Systema
País de Origem: Estados Unidos
Showrunner: Dario Scardapane
Roteiro: David Feige, Jesse Wigutow
Direção: Jeffrey Nachmanoff
Classificação: 18 anos.
Duração: 55 min.
Elenco:
Charlie Cox
Vincent D’Onofrio
Margarita Levieva
Zabryna Guevara
Ayelet Zurer
Michael Gandolfini
Nikki M. James
Genneya Walton
Arty Froushan
Clark Johnson
Jon Bernthal
Elizabeth A. Davis
Charlie Hudson III
Lou Taylor Pucci
Camila Rodriguez
Hamish Allan-Headley
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