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Crítica: "Indiana Jones e a Relíquia do Destino" (2023)

Um final digno para um herói perdido no tempo.

Por Tobias Bernardo.



A franquia de filmes Indiana Jones ajudou, desde a década de 80, a criar o cenário moderno do cinema hollywoodiano que temos hoje. Seja pela direção do renomado Steven Spielberg, que atende do público infantil até os adultos da família, ou pela saga – que agora já soma 5 filmes – de blockbusters, Indiana Jones foi um marco para a história moderna dos filmes de ação e aventura ocidentais. Mas agora, com o lançamento do quinto filme da franquia, será que o peso desse legado se sustenta nas frágeis colunas de uma história que já derrapou algumas vezes no passado?


“Os caçadores da arca perdida”, primeiro filme da série, lançado em 1981, apresentou ao mundo um jovem e cativante arqueólogo chamado Indiana Jones. Interpretado em todos os filmes pelo já consagrado Harrison Ford. O longa conta a jornada de um professor de arqueologia que, nas horas vagas, se aventura pelas ruínas históricas de civilizações esquecidas pelos norte-americanos e destrói sítios arqueológicos inteiros na defesa de um único item considerado por ele (e talvez pelos nazistas) importante, sendo nesse caso a Arca da Aliança. Muito cativante, a trama dos demais filmes da série segue um esquema similar no roteiro, ora mais místico, ora mais religioso; a trilogia original sempre foi sinônimo de diversão e emoção nas telas.


Os problemas da franquia começam a surgir no quarto filme, “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, de 2008, e o que era pra ser o renascimento da franquia acabou como um vexame para a saga. O apelo ao sci-fi e a introdução dos novos personagens não agradou o público na época, que deixou as salas de cinema pedindo o fim da saga e que deixassem o personagem descansar de uma vez por todas de suas aventuras. E foi o que aconteceu… até junho de 2023.



"Indiana Jones e a Relíquia do Destino" chegou como o quinto e (na teoria) último filme da série. Somos lançados no ano de 1969 para ver o nosso protagonista se aposentando da carreira de professor, e tomando, a contragosto, as rédeas de uma nova aventura que perpassa vários países e um choque geracional com a coadjuvante Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge), enquanto enfrentam os inimigos número um da saga, os nazistas liderados por Jürgen Voller (Mads Mikkelsen).


Dirigido por James Mangold, é a primeira vez que Steven Spielberg deixa a cadeira de direção na franquia, e a diferença do tom da narrativa acompanha essas mudanças. Vemos um Indiana mais velho e cansado, uma pessoa deslocada do tempo em que vive e, que já não posa mais para as câmeras como o símbolo de virilidade e juventude rebelde que um dia já foi.


Fica claro, após o desnecessariamente longo flashback, que os dias de glória do personagem ficaram para trás, seja na linguagem do filme ou na vida real. Indiana Jones e a Relíquia do Destino consegue ser uma despedida mais sincera e digna do que seu antecessor, ao olhar para a riqueza nostálgica dos filmes anteriores sem deixar essa emoção tomar conta da obra, consequentemente impedindo de olhar as próprias falhas que surgem ao ressuscitar, para por fim, terminar uma franquia mais de uma vez. 



Nessa mumificação da obra, como vemos em outras séries de filmes que volta e meia são trazidas de volta nessa onda preciosista da indústria norte-americana de cinema (vide Star Wars), Indiana Jones se destaca ao fazer uma autocrítica essencial: será que ainda precisamos desses heróis? O confronto entre um homem que só consegue viver do passado com uma sociedade obcecada com o futuro que está logo ali é o motor que gira as engrenagens da trama.


Não há espaço naquele mundo para alguém cuja maior virtude é a defesa da história humana, das antiguidades. A sua frase, agora já cunhada na mente de algumas gerações, “Isso pertence ao museu!”, passa a ter uma ambivalência melancólica, e hoje (falando de 2023) até ganha outra conotação; afinal, de que museu Indiana está falando? Um localizado nos países colonizadores? Que já levaram tudo e um pouco mais de suas antigas colônias? Não são necessariamente temas que aparecem no filme, mas quando o motor central do roteiro passa a ser questionar a própria obra como um todo, não dá para ignorar as críticas em um nível ideológico. 


Em nível técnico, a direção encadeia bem a série de desventuras do protagonista e seus parceiros, enquanto os coloca em confrontos bem articulados e, honestamente, extremamente divertidos de assistir. Os 154 minutos passam voando, nadando e correndo pelos nossos olhos. E o CGI é bem aplicado, até mesmo no rejuvenescimento do Harrison Ford feito nos primeiros minutos do filme.


Com uma discussão interessante sobre a passagem do tempo e franquias, Indiana Jones e a Relíquia do Destino acerta ao trazer um debate moderno para um filme que muitos já poderiam considerar datado, e apela, na medida ideal, para quem já é fã da franquia. Melhor que o filme anterior (sem dúvida), mas sem o charme antiquado dos primeiros três, é um bom passatempo para quem quer se distrair sem se estressar.


Para quem só se importa com números:

Nota- 7/10


Ficha Técnica:

Título Original: Indiana Jones and the Dial of Destiny

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro: Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, David Koepp, James Mangold (baseado em personagens criados por George Lucas e Philip Kaufman)

Direção:  James Mangold

Classificação: 12 anos

Duração: 154 min


Elenco:

Harrison Ford como Indiana Jones

Phoebe Waller-Bridge como Helena Shaw

Mads Mikkelsen como Jürgen Voller

Antonio Banderas como Renaldo

John Rhys-Davies como Sallah

Toby Jones como Basil Shaw

Boyd Holbrook como Klaber

Ethann Isidore como Teddy Kumar

Shaunette Renée Wilson como Mason

Thomas Kretschmann como Coronel Weber

Karen Allen como Marion Ravenwood

Olivier Richters como Hauke



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