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Crítica: Mulher-Maravilha A Verdadeira Amazona

Atualizado: 3 de jan. de 2023

Uma ótima interpretação da origem da Mulher-Maravilha

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Mulher-Maravilha A Verdadeira Amazona é uma graphic novel lançada nos Estados Unidos pela DC Comics em novembro de 2016. A história conta com roteiro, arte e cores de Jill Thompson. No Brasil, a obra foi publicada pela editora Panini em 2019. Vale destacar que a história está fora da cronologia regular da personagem e da editora da lendas, assim pode ser lida e entendida sem ler nenhuma outra história antes. Portanto, é uma ótima dica para quem quiser iniciar a leitura de quadrinhos de super heróis ou da Mulher-Maravilha.


A história começa com uma breve introdução sobre as amazonas e seu confronto com Héracles que foi chamado pelo rei de Mycenae para atacá-las, pois os homens estavam incomodados com os hábitos da amazonas que eram fortes e,principalmente, não eram submissas a eles. Esses acontecimentos foram o motivo para elas viverem isoladas do resto do mundo do patriarcado na ilha de Themyscira. Depois disso, a trama vai girar em torno da Mulher-Maravilha.




Nesta HQ, a premiada quadrinista Jill Thompson reinventa a origem da princesa amazona. Sim, é mais uma história de origem, porém esta é bem diferente das outras. Esse é o grande mérito deste quadrinho, pois apesar de manter elementos clássicos da Mulher-Maravilha como os deuses (embora representados de maneiras diferentes. Poseidon, por exemplo, é uma criatura marinha gigante), sua criação através do barro, as competições entre as amazonas, as criaturas mitológicas, entre outras coisas, a artista traz novos elementos e personagens. Entre eles podemos destacar a personalidade de Diana que é bem diferente do que a que estamos acostumados (falarei disso daqui a pouco) e a amazona chamada Alethea (palavra em grego que significa "não esquecer", era o conceito de verdade para os gregos antigos. Esse significado é importante para compreender a história, mas não vou explicar para não estragar a experiência de quem for ler).


Como disse anteriormente, o quadrinho traz uma personalidade da protagonista que não havíamos visto antes. Quando criança, Diana era mimada, birrenta e mal educada. Na adolescência, ela era teimosa , rebelde e inconsequente. Na fase adulta, ela é egoísta, impulsiva e irresponsável. Ninguém imaginaria essas características para a Mulher-Maravilha, certo? Exatamente por isso que algumas pessoas criticaram e torceram o nariz para esta obra, no começo, eu também não botei muita fé, mas ao longo da leitura, me acostumei e entendi a visão que Jill quis trazer para a princesa de Themyscira. Além disso, é sempre bom ler quadrinhos de heróis que fogem do padrão.



A história mostra as fases da vida de Diana até que ela se torne adulta. Neste momento de sua vida, ela percebe que, aparentemente, Alethea é a única amazona que não gosta dela. Deste modo, a protagonista deseja fazer o que puder (até promete mudar seu comportamento difícil) para conquistar o respeito, a admiração e a consideração da jovem por quem tem sentimentos de paixão. Embora esta tensão sexual seja clara na história, ela não é um motor e nem um grande evento da narrativa.


Esse é outro mérito da história: apresentar a sexualidade da Mulher-Maravilha, evidenciando que ela se sente atraída por outras mulheres (é simples pensar que uma mulher que vive em uma ilha povoada apenas por mulheres, em algum momento, iria se sentir atraída ou se apaixonar por outra mulher). Jill Thompson não retrata esta atração que Diana sente por Alethea como o ponto principal da história (como disse no parágrafo anterior), ela prefere mostrar Diana como uma pessoa disposta de tudo para atrair atenção e carinho de alguém que não se importa com ela.


O pensamento mesquinho e irresponsável de Diana é responsável pelo clímax da obra. Durante um torneio entre as amazonas, a princesa, buscando a vitória e, consequente, a atenção de Alethea, acaba liberando diversos monstros mitológicos que acabam espalhando caos e destruição por Themyscira. Essa ação da personagem gera consequências gravíssimas que a nossa heroína carregará para o resto de sua vida. Diana é exilada de seu lar e passará a viver no mundo do homens para buscar reparar e superar os erros que cometeu e aprender a ser uma pessoa melhor. Comentando sobre a história, para o site Bustle, a autora disse: "Eu gosto muito de contos de fadas e todas as mitologias, e uma coisa que achava é que faltava um calcanhar de Aquiles à Diana. Ela sempre me pareceu muito perfeita, e não me identificava com isso. Na maior parte da mitologia grega, sempre tem alguma coisa horrível que prejudica o personagem no final. Quero adicionar mais um elemento."


Diana e Alethea

A Mulher-Maravilha aprende da maneira mais dolorosa possível que os heróis não precisam ser perfeitos para serem heróis e que todo mundo pode aprender com seus erros (por pior que eles sejam) e buscar melhorar a cada dia. Esta é a mensagem deste quadrinho.


Bom, até agora, deu para ver que o roteiro é interessante, bem feito e bem desenvolvido. Então, passemos para a arte. Jill Thompson traz uma arte aquarelada ficou muito bonita. Seu traço e suas cores criam belas paisagens, personagens (com destaque para as expressões), monstros e deuses, trazem detalhes nas vestimentas (as amazonas possuem cores de roupa que dependem da posição social que possuem) e nas construções de Themyscira. Uso da aquarela também é um ponto fora da curva para as HQs de heróis.


É no torneio que ocorrre o clímax da obra

Mulher-Maravilha A Verdadeira Amazona é um quadrinho que precisa ser lido de mente aberta, pois traz uma nova, corajosa e interessante visão da Mulher-Maravilha. Pensando desta maneira, esta graphic novel agradará fãs antigos da personagem e pessoas que nunca leram quadrinhos dela e desejam começar por este.


Para quem só se importa com números:

Nota: 8/10


Dados da HQ:

Roteiro: Jill Thompson

Arte: Jill Thompson

Editores: Jim Chadwick, Jessica Chen

Editora original: DC Comics

Editora no Brasil: Panini

Tradução: Ticiane Martins

Adaptação: Bernardo Santana

Letras: Oldrine

Editor: Levi Trindade


Prêmios vencidos por Mulher-Maravilha A Verdadeira Amazona:

Prêmio Eisner (2017): Melhor Graphic Novel

Prêmio Eisner (2017): Melhor desenhista/artista multimídia - Jill Thompson





47 visualizações2 comentários

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2 Comments


danbrodrigues
Jan 07, 2023

A Mitologia nos apresenta uma explicação mística da realidade, por outro lado o HQ, da Mulher Maravilha, revela a potência de um ser, que com o passar do tempo passa por várias transformações até apresentar uma persona extremamente feminista. Conheci o HQ da Mulher Maravilha no início dos anos 80, junto com seu seriado e posso dizer que as histórias atuais nos faz mais críticos. Parabéns pela crítica ou será que é uma análise.

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desenhandorecordat
desenhandorecordat
Jan 08, 2023
Replying to

Muito obrigado! As histórias da Mulher-Maravilha começaram mais críticas na década de 1940, ficaram ruins entre os anos 1950-1960 (a personagem era subaproveitada e sexualizada), na década de 1970, com o fortalecimento da movimento feminista, ela voltou a receber mais destaque, principalmente depois de ser capa da revista Ms. Magazine da jornalista e ativista feminista Gloria Steinem. Hoje, a personagem continua sendo um importante símbolo do empoderamento feminino.

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