top of page

Crítica: “O Brutalista” (2024)

  • Foto do escritor: Igor Biagioni Rodrigues
    Igor Biagioni Rodrigues
  • 26 de fev.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 1 de mar.

Não dá pra elogiar zagueiro antes do fim do jogo...

Por Igor Biagioni Rodrigues.

(A24/Universal Pictures Brasil/Divulgação)
(A24/Universal Pictures Brasil/Divulgação)

Ambientado em um contexto pós-guerra, “O Brutalista” conta a história de László, um arquiteto judeu húngaro (interpretado de forma eficaz por Adrien Brody) que, em 1947, após o fim da Segunda Guerra Mundial, imigra para os Estados Unidos, onde vai morar com um primo que havia imigrado anos antes e que tinha mudado de nome, se convertido ao catolicismo e aberto uma loja de móveis. É assim que László entra no radar de Harrison Van Buren (Guy Pearce), um milionário que lhe oferece uma aparente oportunidade de mudança de vida ao contratá-lo para construir um centro social para a comunidade.


O Brutalismo é um movimento arquitetônico que surgiu nos anos 1950 e teve seu auge entre as décadas de 1960 e 1970. Sua principal característica é o uso extensivo de concreto aparente, destacando a autenticidade dos materiais e priorizando a funcionalidade das construções, sem seguir padrões estéticos tradicionais. No filme, por meio da história de László, o movimento funciona como uma alusão metafórica à condição humana, principalmente à dos imigrantes que se mudaram para os Estados Unidos no pós-guerra em busca de novas oportunidades e de uma mudança de vida impulsionada pelo chamado “sonho americano”. Essas pessoas buscavam uma libertação em relação aos horrores que sofreram durante a guerra. Liberdade essa que é falsa e simbolicamente demonstrada de maneira muito inteligente no início do filme, ao trazer um plano com o símbolo máximo desse sentimento, a Estátua da Liberdade, de ponta-cabeça.


O longa-metragem, com 216 minutos de duração, teve sua exibição comercial no Brasil feita de maneira diferente: ao completar 100 minutos de exibição, há um intervalo de quinze minutos. Tal fato torna difícil não analisar a película em duas partes distintas. A primeira, que mostra os anos iniciais do protagonista nos Estados Unidos, é brilhante. Há a excelente ideia de construir um personagem enlaçado a ideias de um movimento arquitetônico que surgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial, demonstrando os alicerces do protagonista que, assim como o próprio brutalismo, busca funcionalidade apesar da rigidez de que é constituído.


Algo interessante de ser ressaltado é que o longa foi gravado em VistaVision, um formato de filme widescreen de 35 mm criado pela Paramount Pictures em 1954, que produz imagens mais ricas e detalhadas mesmo em planos mais amplos. Tal formato foi utilizado em filmes como “Vertigo”, de Alfred Hitchcock. Esse formato, somado a uma trilha sonora que simula sons de construção, dá um impacto de grandeza à primeira parte do longa.


(A24/Universal Pictures Brasil/Divulgação)
(A24/Universal Pictures Brasil/Divulgação)

Porém, da mesma forma que a chegada a um novo país se demonstra uma promessa furada, o mesmo ocorre com a segunda metade do filme. Ao introduzir cada vez mais personagens, a construção deles se torna mais vazia e passa a transmitir um falso sentimento de profundidade, tal como a biblioteca planejada por László. Assuntos como xenofobia, classismo, preconceito e antissemitismo estão presentes no longa, mas, diferentemente da ideia inicial, são desenvolvidos da forma mais convencional possível.


Em relação às cenas de sexo, a ideia de demonstrar que os horrores vividos na guerra afetaram a maneira como o protagonista se realiza — não mais de forma biológica, mas por meio do trabalho, que virou sua obsessão compulsiva — é boa, mas se perde pela maneira mecânica como são encenadas.


Outra falha nessa parte é a “martelação” da temática da opressão social, um tema que já havia sido bem trabalhado na primeira metade, mas que aqui é escancarado, quase cuspido na tela, com uma sequência totalmente desnecessária dentro da narrativa. Sim, refiro-me à cena em que o personagem de Brody é estuprado por Harrison. Tal cena só gera uma consequência que é executada de maneira vergonhosa no final. Final esse que nos leva a um epílogo totalmente didático, que serve apenas para explicar de maneira disfuncional aquilo que o longa já havia apresentado.


A extensa duração do filme não é sentida, mas há um sentimento de que mais poderia ter sido feito, principalmente com outros personagens e em relação à própria obra de László. Nos é vendido que ele é um grande arquiteto, mas quase não vemos seu trabalho. Se a película decide retratar a vida (de um personagem ficcional) cuja obsessão é sua obra, seu legado e seu significado, isso deveria ter sido melhor retratado, não apenas forçado goela abaixo com um epílogo explicativo.


Ao chegar ao fim do filme, tudo que resta são construtos vazios de uma ideia perspicaz, mas que falha em seu desenvolvimento, demonstrando-se apenas como um plano grandioso cujos alicerces não dão conta de sustentar.


Para quem só se importa com números:

Nota- 7/10.


Ficha técnica:

Título original: The Brutalist

Países de origem: Estados Unidos, Hungria e Reino Unido

Roteiristas: Brady Corbet e Mona Fastvold

Direção: Brady Corbet

Classificação: 18 anos

Duração: 216 min.


Elenco:

Adrien Brody como László Tóth

Felicity Jones como Erzsébet Tóth

Guy Pearce como Harrison Lee Van Buren Sr.

Joe Alwyn como Harry Lee Van Buren

Raffey Cassidy como Zsófia Tóth

Stacy Martin como Maggie Van Buren

Emma Laird como Audrey

Alessandro Nivola como Attila

Isaach De Bankolé como Gordon

Ariane Labed como Zsófia





Commentaires


bottom of page