Satirizando o true crime.
Por: Igor Biagioni Rodrigues
“Only Murders In The Building” conta a história de Charles-Haden Savage (Steve Martin), um ator de um antigo seriado televisivo, Oliver Putnam (Martin Short), um diretor de teatro em decadência, e Mabel Mora (Selena Gomez), uma jovem misteriosa. Eles moram no luxuoso condomínio Arconia, em Nova Iorque. Um dia, um morador do prédio morre de maneira suspeita. Movidos pela paixão por podcasts de true-crime, os três personagens decidem começar seu próprio podcast investigando o caso.
Mas antes de falarmos da série propriamente, vamos refletir sobre alguns temas que ela aborda. Atualmente, vivemos em um momento em que ocorre uma banalização e espetacularização da violência. O filósofo e cineasta Guy Debord definia o “espetáculo” como um show, e que se colocado como uma análise social, mostraria que nossa vida é regida por ele, mediada por imagens através da mídia e transformada num espetáculo. Outro termo interessante para comentarmos, é o da Indústria Cultural, criado por Theodor Adorno (em parceria com Max Horkheimer), em que o mesmo diz que essa Indústria Cultural gera um consumo de massas que molda o comportamento da sociedade.
Mas em que isso se relaciona com a banalização da violência? Bem, a mídia começou a produzir diversos programas policiais, pseudo jornalísticos e sensacionalistas que todos os dia cobrem casos de assassinatos, estupros, roubos etc. Muitas vezes esses programas passam em um horário que um trabalhador está chegando em casa, cansado do trabalho, querendo relaxar, e ter um momento de lazer. Tal conteúdo está passando e isso vai se tornando uma constante, assim, logo já não nos chocamos com a violência. É isso que “Only Murders In The Building” vem criticar de uma forma muito inteligente e cômica: a violência banalizada e utilizada como forma de lazer.
Utilizando de uma narrativa Whodunnit, um recurso narrativo que consiste em um assassinato de um dos personagens que fazem parte da trama, gerando um processo de investigação para se descobrir o culpado, a série satiriza os podcasts de true crime, um formato que ficou extremamente famoso nos últimos anos.
Falando um pouco dos personagens, os três possuem uma química sensacional, cada um com um humor único. Steve Martin, que ficou alguns anos sem produzir e estrelar algo, volta de uma forma incrível, produzindo a série e atuando como Charles “Brazzos”, entregando um humor, principalmente corporal que é hilário. Martin Short interpreta Olivier (meu personagem favorito entre os três protagonistas) e traz um humor muito característico, com um senhor de idade preso em sua juventude. E, por fim, Selena Gomez que poderia vir a ser o elo mais fraco do trio, surpreende fazendo Mabel ser uma personagem cativante, com seu sarcasmo ácido e passado misterioso.
Os aspectos técnicos do seriado não ficam para trás. A Direção de Arte faz um trabalho primoroso, entregando cenários deslumbrantes e figurinos extremamente coloridos que somados com uma trilha sonora simples, porém enigmática, ditam o tom da série: comicidade e mistério.
Vale destacar os episódios centrados em personagens secundários, no caso, o sexto episódio da primeira temporada (que utiliza uma montagem excelente para retratar a percepção de mundo de um personagem surdo) e o quarto episódio da segunda temporada que é temático de uma das moradoras do Arconia (considerada a mais irritante), mas que entrega um ótimo capítulo e mostra como não conhecemos verdadeiramente as pessoas nem os nossos vizinhos.
Ambas temporadas, inicialmente, possuem linhas narrativas bem parecidas, entretanto se encaminham para desfechos diferentes, o que faz com que a série não seja repetitiva e muito forçada. Elas também possuem participações especiais bem legais como: Cara Delevingne, Nathan Lane, Sting, Tina Fey, Amy Schumer e até uma pontinha do Jimmy Fallon (sem contar que a terceira temporada contará com Paul Rudd).
O único pesar em relação a essa série é sua parte dramática. Ela não funciona. Até mesmo quando na segunda temporada tentam abordar a relação de paternidade de diferentes formas com os três protagonistas, é desinteressante. Esses personagens não funcionam dramaticamente e não teria problema nenhum usá-los apenas através do humor, pelo contrário, seria melhor se fosse assim.
Para resumir, “Only Murders In The Building” é uma ótima série que se utiliza muito bem do humor para satirizar a banalização da violência e o uso da mesma como lazer. Trazendo personagens e situações extremamente divertidas, engraçadas e apimentadas com um tom de mistério que nos prende do início ao fim.
Para quem só se importa com números:
Nota- 8/10.
Ficha técnica:
Título Original: Only Murders In The Building.
Criação: Steve Martin, John Hoffman.
Direção:Jamie Babbit, Cherien Dabis, Don Scardino, Gillian Robespierre, Chris Teague.
Roteiro: Steve Martin, John Hoffman, Kirker Butler, Ben Smith, Kristin Newman, Thembi L. Banks, Madeleine George, Kim Rosenstock, Stephen Markley, Ben Philippe, Matteo Borghese, Rob Turbovsky, Rachel Burger.
País de origem: Estados Unidos.
Classificação: 14 anos.
Duração: 317 minutos (soma da duração dos dez episódios da primeira temporada).
336 minutos (soma da duração dos dez episódios da segunda temporada).
Onde assistir: Star Plus
Elenco:
Steve Martin como Charles-Haden Savege.
Martin Short como Oliver Putnam.
Selena Gomez como Mabel Mora.
Amy Ryan Jan Bellows.
Ryan Broussard como Will Putnam
Aaron Dominguez como Oscar Torres.
Julian Cihi como Tim Kono.
Tina Fey como ela mesma.
Cara Delevigne como Alice.
Nathan Lane como Teddy Dimas.
Da’Vine Joy Randolph como Detetive Williams.
James Caverly como Theo Dimas.
Michael Cyril Creighton como Howard Morris.
Jackie Hoffman como Uma Heller.
Jayne Houdyshell como Bunny Folger.
Michael Rapaport como Detetive Kreps.
Adina Verson como Poppy White.
Sting como ele mesmo.
Olivia Reis como Zoe Cassidy.
Mandy Gonzalez como Silvia Mora.
Zoe Colleti como Lucy.
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