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  • Foto do escritorIgor Biagioni Rodrigues

Crítica: "Oppenheimer" (2023)

Atualizado: 2 de mar.

Quando Nolan decidiu inovar.

Por Igor Biagioni Rodrigues.

Inspirado no livro "American Prometheus" de Kai Bird e Martin Jay Sherwin, o longa-metragem retrata a vida do físico J. Robert Oppenheimer, que colaborou com uma equipe de cientistas durante o Projeto Manhattan, resultando no desenvolvimento da bomba atômica.


"Oppenheimer" é o filme mais inovador de toda a filmografia de Christopher Nolan. O diretor frequentemente recorre a conceitos científicos complexos como artifício narrativo para conferir maior "profundidade" às suas histórias, deixando de lado algo fundamental para a construção de uma trama: o desenvolvimento emocional dos personagens.


No entanto, nesta película em particular, a abordagem é muito diferente. É verdade que o diretor faz uso de vários termos técnicos e científicos, o que é compreensível dada a temática abordada. No entanto, ao contrário do que acontece em outros filmes de Christopher Nolan, dessa vez esses termos não funcionam como uma artimanha narrativa para criar uma falsa sensação de complexidade na trama, nem comprometem o desenvolvimento emocional dos personagens ao longo do filme.


Na crítica de "Barbie", mencionei a corrente filosófica do Existencialismo. Coincidentemente, o outro filme do fenômeno cinematográfico do ano, "Barbienheimer", aborda um aspecto semelhante: as consequências das escolhas de uma pessoa. E, no caso em questão, uma das escolhas mais impactantes da história da humanidade. "Oppenheimer" opta por narrar a história que levou aos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki sob a perspectiva de Julius Robert Oppenheimer, explorando sua culpa diante dos eventos e seu julgamento (não pelo envolvimento em um imenso crime de guerra, mas pelo Macarthismo). Diante disso, Nolan escolheu redigir o roteiro do filme em primeira pessoa, uma abordagem pouco comum na escrita de roteiros, com o propósito de, segundo ele, "mostrar a interação pessoal com o contexto histórico e geopolítico". Essa opção narrativa poderia ter levado o filme a se tornar uma homenagem ao poderio militar e político dos Estados Unidos e a minimizar o papel do físico. No entanto, isso não ocorre.

(A imagem a seguir, trata-se da última página do roteiro do filme, por tanto, contém spoilers!)

Página do roteiro de "Oppenheimer" retirada de um post do perfil @cristophernolanpoint via Instagram.

O êxito dessa ideia de narrar a história pelos olhos do cientista deve-se à magnífica interpretação de Cillian Murphy (e não apenas Murphy entrega uma atuação excelente, mas todo o elenco de apoio também, com destaque para Robert Downey Jr, que oferece a melhor atuação de sua carreira), à montagem do filme e à trilha sonora composta por Ludwig Göransson. Os enquadramentos em primeiro plano e os closes no rosto do ator são utilizados em momentos-chave. Associados à aceleração gradual do ritmo da música, esses elementos vão delineando e moldando os pensamentos/sentimentos do personagem. A trama envolve várias personas e situações, as quais não recebem respostas imediatas. Os problemas são entrelaçados com as emoções dos envolvidos, de modo que, mesmo com diálogos rápidos, o filme não se torna cansativo ou desinteressante ao longo de suas três horas de duração.

O diretor, apesar de inovar na temática deste filme (uma vez que Nolan normalmente realiza filmes de ficção científica e não biografias cinematográficas), ainda incorpora muito de sua assinatura como cineasta, como, por exemplo, a utilização de uma narrativa não linear, o emprego de efeitos práticos e um trabalho de som marcante. (Destaque para a cena a explosão no Teste Trinity, que o retardamento do som em relação a imagem não é apenas fisicamente acurado, como também reflete, num primeiro momento, em um encantamento perante a criação da arma "Agora me torno a Morte, destruidora de Mundos", seguido de um repentino arrependimento e terror que chega com o som da explosão).


"Oppenheimer" é um notável exemplo do poder da linguagem cinematográfica. O filme narra uma história reflexiva sobre o uso negativo da ciência, as emoções, tragédias humanas e política. Trata-se de um filme que aborda a responsabilidade humana perante suas decisões, a hipocrisia de uma nação e como a soberba e o ego dos homens comandam e condenam um planeta. Tudo isso é apresentado por meio de uma execução técnica impecável: um roteiro inventivo e de alta qualidade, uma fotografia inovadora, um design sonoro entrelaçado à narrativa, atuações impecáveis e efeitos práticos. O longa-metragem é uma resposta clara ao cinema contemporâneo, aquele que não se enxerga como arte, mas apenas como indústria e o considera unicamente uma fonte de lucro. "Oppenheimer" representa o mais alto nível de cinema, tanto em termos técnicos quanto artísticos (e graças a "Barbienheimer", também comercial).


Para quem só se importa com números:

Nota-10/10.


Ficha técnica:

Título original: Oppenheimer

País de Origem: Estados Unidos, Inglaterra e Irlanda do Norte

Roteiro: Cristopher Nolan,Kai Bird e Martin Sherwin

Direção: Cristopher Nolan

Duração: 180 min

Classificação: 16 anos


Elenco:

Cillian Murphy como J. Robert Oppenheimer

Emily Blunt como Katherine Oppenheimer

Robert Downey Jr. como Lewis Strauss

Kenneth Branagh como Niels Bohr

Florence Pugh como Jean Tatlock

Matt Damon como Leslie Groves

Benny Safdie como Edward Teller

Rami Malek como David L. Hill

Casey Affleck como Boris Pash

Gary Oldman como Harry Truman

Dane DeHaan como Kenneth Nichols

Alden Ehrenreich como Senador aliado do Lewis Strauss

Scott Grimes como Conselheiro do Lewis Strauss

Jason Clarke como Roger Robb

Tony Goldwyn como Gordon Gray

James D’Arcy como Patrick Blackett

Tom Conti como Eisntein

David Krumholtz como Isidor Isaac Rabi

Matthias Schweighöfer como Werner Heisenberg

Josh Hartnett como Ernerst LKawrence

Josh Zuckerman como Giovanni Rossi

Dylan Arnold como Frank Oppenheimer

Emma Dumont como Jackie Oppenheimer

Louise Lombard como Ruth Tolman

Matthew Modine como Vannevar Bush

Gustaf Skarsgård como Hans Beth

Danny Deferrari como Enrico Fermi

Devon Bostick como Seth Neddermeyer

Christopher Denham como Klaus Fuchs




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