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  • Foto do escritorIgor Biagioni Rodrigues

Crítica: Os Banshees de Inisherin (2022)

Atualizado: 23 de mai. de 2023

Guerras fratricidas.

Por Igor Biagioni Rodrigues.

O longa do diretor Martin McDonagh que nasceu e foi criado em Londres, mas é filho de irlandeses, é ambientado no ano de 1923 e tem como pano de fundo a Guerra Civil Irlandesa. Antes de falarmos diretamente do filme, vamos falar um pouco da história da Irlanda e da já citada Guerra Civil.


A História da Irlanda e a Guerra Civil:


A Irlanda é uma ilha separada em duas regiões: A República da Irlanda (país independente) e a Irlanda do Norte (constitui o Reino Unido). A relação da Irlanda com a Inglaterra sempre foi um pouco complicada (Eufemismo do ano aqui). Mas por quê? Bem vejamos os motivos:


- Durante o século XII, a Irlanda foi invadida por Normandos e Ingleses


- O domínio britânico sobre a Irlanda é consolidado no século XVI, no período Tudor, com Henrique VIII, que criou o título de Rei da Irlanda e ele mesmo se coroou. E, nos cem anos seguintes, a resistência irlandesa que era contra esse domínio foi sofrendo derrotas.


- A atual formação da Irlanda teve sua origem no ano de 1672, quando católicos foram proibidos de exercer ações e funções tanto políticas quanto administrativas na Irlanda e na Grã Bretanha. No final do século XVII, ingleses protestantes são enviados para lá como colonos. Forma-se então um governo de Anglo-protestantes do Norte. Os cidadãos católicos (a maioria), passam a ser tratados com desprezo.


- Em 1801, o Reino Unido é criado. Um dos motivos foi a Rebelião Irlandesa de 1798, quando os irlandeses tentaram recuperar sua independência. Em 1829 os católicos voltam a ter direito político no Reino Unido. E todo o século XIX é recheado de conflitos.


- A Inglaterra era extremamente industrializada, e a Irlanda era uma região rural. Os ingleses começam a transferir cada vez mais sua produção agrícola para a Irlanda, diminuindo a quantidade de terras férteis. Assim, irlandeses começam a sair do país ou a morrer de fome.


- É nesse contexto que surge o Nacionalismo Irlandês, que lutava contra o Unionismo (Anglo- Irlandeses que desejavam a permanência no Reino Unido). Em 1916, ocorreu o "Levante da Páscoa" a favor da independência, porém o movimento fracassou e seus líderes foram assassinados. O levante e o desgaste após a guerra foram essenciais para que fosse eleito um governo nacionalista (Sinn Féin). E, em 1919, a Irlanda declara independência.


-Nisto, a Inglaterra propunha a partição da Irlanda em duas, em que ambas fossem autônomas mas fazendo parte do Reino Unido. Os movimentos pela independência não aceitaram isso, principalmente o IRA (Exército Republicano Irlandês), resultando na Guerra de Independência (1919-1921).


- Em 1921, a Inglaterra aceita a independência do novo Estado Livre da Irlanda no sul, mas com o rei da Inglaterra sendo seu Chefe de Estado (assim como o Canadá é hoje em dia), e, ao norte, o território continuaria sendo britânico. Mas o acordo não agradou a todos. Assim, iniciou-se a Guerra Civil Irlandesa, quando o IRA se volta contra o governo e é derrotado em 1923.


-Em 1937, a Irlanda se proclama uma república livre de qualquer domínio britânico, mas depois disso muitas outras coisas aconteceram e recomendo você a assistir esse vídeo do Filipe Figueiredo e ler essa matéria se estiver curioso.




Os Banshees de Inisherin:


Ufa! Agora que você já sabe sobre o contexto histórico, vamos ao filme propriamente dito. O longa conta a história de de Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson), dois amigos que moram na fictícia ilha de Inisherin, onde a vida se resume em ir à igreja e beber num pub local. Um certo dia, Colm decide não ser mais amigo de Pádraic, pois acredita que estava desperdiçando sua vida na companhia do ex-amigo e queria passar o tempo que lhe resta compondo músicas que o fizessem ser lembrado no futuro. Pádraic não aceita esse rompimento repentino. Nisso, inúmeros conflitos acontecem entre os o dois e afetam todos na pequena ilha.


O longa é uma comédia dramática que utiliza do absurdo como recurso para gerar tanto a parte cômica quanto a trágica. No entanto, o absurdo aqui é tão exagerado que acaba transformando essa pequena fábula em algo muito caricato. É claro que apelar para a caricatura oferece uma ótima chance para os atores se sobressaírem e se destacarem mais do que o texto. Não é à toa que Colin Farrel, Brendan Gleeson, Barry Keoghan e Kerry Condon foram indicados ao Oscar por seus papéis. Destaco aqui a Kerry Condon, que entrega em Siobhán a melhor personagem do filme, não sendo uma personagem feminina de apoio, mas a bússola moral do filme. É nela que está a resolução para os problemas de Pádraic e Colm e até mesmo para toda Inisherin. Entretanto, na tentativa de entregar um tom de nacionalismo, o filme entrega uma visão negativa dos irlandeses: pessoas sem conteúdo, depressivas e viciadas em bebidas.



Mas por que eu fiz toda aquela apresentação da história da Irlanda e da Guerra Civil Irlandesa? Bom, a ilha de Inisherin pode até não estar envolvida de forma direta na guerra (só vemos explosões ao longe no horizonte), mas a guerra entre Pádraic e Colm acaba sendo uma metáfora para a Guerra Civil. Podemos fazer a seguinte relação: Colm está cansado e só quer paz (assim como o governo irlandês), mas Pádraic não aceita (assim como IRA) e uma disputa entre os dois acontece e afeta a todos. Mas essa leitura não é a principal ideia e motivação do filme. Aliás, se fosse assim, o longa poderia ser mais interessante. Contudo, a ideia maior aqui é contar uma história de uma inimizade que surge entre duas pessoas que ainda se gostam, por mais que um negue. Como PH Santos diz em sua análise sobre o filme: se você não gosta de algo, você não presta atenção naquilo e o ignora, mas se você continua falando que não gosta e fingindo ignorar, é porque ainda se importa.


Na utilização do absurdo, o filme passa por momentos comicamente bizarros e um drama estranho, e até ganha contextos sobrenaturais com a presença de uma banshee (na cultura irlandesa são espíritos que trazem a notícia de morte) que está presente no título e desde o início já tenta nos preparar para o final trágico que viria, mas o final não tem o impacto que o filme promete durante toda sua duração.


Na parte técnica, a película possui uma fotografia excelente e foi um ótimo acerto utilizar de locações em ilhas irlandesas de verdade, assim o filme possui em toda sua duração uma ambientação natural realística e não uma engessada feita em estúdio.


McDonagh trabalha com teatro e disse que sua intenção era que o longa tivesse toda uma forma teatral (personagens, história, reviravoltas e diálogos), mas com uma visualidade cinematográfica. Nesse quesito, ele acerta muito bem. Todavia, a montagem do filme deixa a desejar, pois vemos momentos de falhas de continuidade entre as cenas. Não entendo o porquê desse filme ter sido indicado ao Oscar de Melhor Edição.



Em suma, "Os Banshees de Inisherin" é um conto teatral, com teor de fábula e visualmente cinematográfico que apela para o exagero, fazendo com que seus atores sejam superiores ao próprio texto. Além disso, o filme tenta entregar um tom nacionalista irlandês, mas acaba nos apresentando um estereótipo negativo deles.


Para quem só se importa com números:

Nota-6/10.


Ficha Técnica:

Título Original: The Banshees Of Inisherin.

Países de Origem: Irlanda, Reino Unido, EUA.

Roteiro: Martin McDonagh.

Direção: Martin McDonagh.

Duração: 114 minutos.

Classificação: 16 anos.


Elenco:

Colin Farrell como Pádraic Súilleabháin.

Brendan Gleeson como Colm Doherty.

Kerry Condon como Siobhan Súilleabháin.

Barry Keoghan como Dominic Kearney.

Pat Shortt como Jonjo Devine.

Sheila Flitton como Sra. McCormick.

Jon Kenny como Gerry.

Gary Lydon como Peadar Kearney.


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