O mundo de Sofia…
Por Igor Biagioni Rodrigues.
Contém spoilers...
Após um episódio centrado em Victor, agora é a vez de Sofia. Na estreia de Helen Shaver na direção de um episódio de “Pinguim” (ela dirigiu os episódios 4 e 5), temos o episódio mais quadrinesco de toda a produção até o momento, graças às loucuras impostas pelo Asilo Arkham.
O episódio começa com a mudança do ponto de vista após o cliffhanger de “Bliss”. Desta vez, vemos como Sofia enxergou a nova traição de Oz para com ela. Ferida e sangrando, ela pede ajuda a alguém e desmaia. Nesse momento, somos transportados para dez anos no passado, onde encontramos uma Sofia mais jovem e inocente, dando um discurso em um evento de sua fundação contra o suicídio de mulheres. É interessante como a fotografia dessa cena deixa Gotham mais brilhante, refletindo a visão de mundo que a personagem possuía naquela época.
Mas nem tudo é o que parece. Sofia sabe que, por mais que goste e acredite naquilo que faz, tudo não passa de uma maneira que sua família encontrou para afastá-la dos verdadeiros negócios. Novamente, a série demonstra o machismo presente na máfia quando Sofia conversa com Oz sobre sua posição. Ele, como sempre, sabe exatamente o que dizer — ou melhor, fala aquilo que os outros querem ouvir — e concorda com sua chefe. Antes de deixar o evento, Sofia é abordada pela repórter Summer Gleeson (personagem criada em Batman: A Série Animada, uma das várias referências que este episódio possui), que a questiona sobre os diversos supostos suicídios por enforcamento que vêm ocorrendo no 44 Negativos, bar de seu pai.
(É interessante ressaltar a ligação direta com o filme The Batman (2022), não apenas pela citação do 44 Negativos, mas também pela maneira como as mulheres morreram — enforcadas, assim como a mãe de Selina Kyle — e pela forma como Carmine tentou matar a Mulher-Gato.)
Através desse encontro, Sofia relembra o dia em que encontrou sua mãe morta, por suposto suicídio, no quarto dos pais. Intrigada pela possibilidade de seu pai estar envolvido na morte das mulheres e da própria mãe, ela se encontra mais uma vez com a repórter. Algum tempo depois, na festa de aniversário de seu tio Luca, Sofia é surpreendida por Oz, que lhe diz que seu pai a está chamando. Carmine Falcone questiona os encontros da filha com Summer Gleeson, afirmando estar extremamente decepcionado e acusando-a de estar enlouquecendo (numa excelente atuação de Mark Strong, substituindo John Turturro). Sofia então descobre que Oz a dedurou — a primeira traição do Pinguim para com ela — e é acusada pela morte da repórter e das outras mulheres, sendo chamada pela imprensa de Hangman (“assassina da forca” em tradução literal, adaptada na versão brasileira como “Carrasco”). Assim, ela é enviada para o Arkham.
Aqui começa o brilhantismo técnico do episódio, que se transforma em um verdadeiro filme de terror. A câmera começa a tremer e a ficar suja, com ângulos subjetivos representando o ponto de vista da personagem. A trilha sonora se intensifica, e a coloração da fotografia se torna saturada. Esses elementos, combinados com uma montagem frenética na sequência de eletrochoques e a repetição exaustiva, geram uma sensação de sufocamento, criando um ambiente claustrofóbico e opressor. Como bem sabemos, o Arkham não é um lugar para curar pessoas, mas para piorá-las.
Sofia não era a verdadeira Hangman, mas lá dentro, sob a influência do hospital controlado por seu pai, ela se transforma em uma assassina. (Aliás, sua vizinha de cela, Magpie, é uma personagem criada por John Byrne em Man of Steel #06 de 1986 — uma ladra obcecada por joias e pássaros, sendo a primeira vilã que Batman e Superman enfrentam juntos no pós-Crise.)
Desculpem a digressão sobre as referências aos quadrinhos. Voltemos à série.
De volta ao presente, Sofia está na casa do psiquiatra Rush, para quem ela havia ligado. Destaque para a equipe de maquiagem, que ao longo de todo o episódio faz um trabalho incrível. A maquiagem de Sofia funciona como uma máscara, mas, nesta cena, ela aparece limpa, sem nada — uma metáfora para mostrar quem ela realmente é. A cena simboliza seu renascimento. Ela questiona como os homens a trataram, inclusive o médico, e afirma saber que não está louca, mas que é o mundo que está.
Sofia volta para casa, novamente na festa de aniversário de Luca, e decide parar de se esconder. Ela revela como foi (até então) inocente e como todos a traíram. Faz um brinde desejando cem anos de saúde (o Cent’anni do título) e declara que agora terá uma nova vida.
No final, ela faz exatamente o que seu pai a ensinou: elimina todos que estavam em seu caminho, inclusive membros da própria família, matando-os por asfixia. Porque, apesar de tudo o que somos e fazemos, ainda somos os mesmos que nossos pais.
Para quem só se importa com números:
Nota- 9/10.
Ficha técnica:
Título Original:
País de Origem: Estados Unidos
Criação: Lauren LeFranc
Roteiro: John McCutcheon
Direção: Helen Shaver
Classificação: 16 anos.
Duração: 59 min.
Elenco:
Colin Farrell
Cristin Milioti
Rhenzy Feliz
Deirdre O’Connell
Clancy Brown
Carmen Ejogo
Michael Zegen
Berto Colón
James Madio
Joshua Bitton
David H. Holmes
Daniel J. Watts
Ben Cook
Jayme Lawson
Michael Kelly
Theo Rossi
Shohreh Aghdashloo
Mark Strong
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