top of page
  • Foto do escritorIgor Biagioni Rodrigues

Crítica: Pinóquio por Guillermo Del Toro (2022).

Atualizado: 23 de mai. de 2023

É a morte que deixa a vida bela.

Por: Igor Biagioni Rodrigues.


No recomendadíssimo “Pinóquio por Guillermo Del Toro: Cinema feito à mão”, o making of do filme, o diretor diz: ”A animação se tornou, na mente do consumidor, um gênero. Mas também é uma forma de arte. E de todas as formas de animação, a mais sagrada e mágica, para mim é o stop-motion, porque representa o elo entre o animador e o modelo. Normalmente, o filme captura a realidade. A animação cria e precisa simular a captura. Você dá vida a ela. Essa é a forma de arte mais elevada.” Cinematograficamente falando, eu não poderia concordar mais com Del Toro. Sei que sou suspeito, mas fazer animação é justamente isso. Eu poderia resumir esse texto dizendo que essa versão de Pinóquio é um triunfo do Cinema de Animação/do stop-motion e possui uma narrativa com uma mensagem emocionante.


No longa, narrado genialmente por Sebastião O. Grilo, vemos um Geppetto amargurado e afundado na tristeza (e na bebida) após a morte de seu filho Carlo. No ápice de uma bebedeira, Geppetto esculpe um boneco de madeira, totalmente imperfeito, com vários pregos nas costas (alusão a Jesus) e uma orelha só, que através da magia de uma fada, ganha vida e vem modificar o mundo de todos ao seu redor. Essa versão do boneco de madeira é uma reinterpretação da fábula, mas consegue ser extremamente original, com momentos sombrios, emocionantes e com a cara (estética) do Del Toro.


Pinóquio utiliza sim da fábula e de seus elementos clássicos: o nariz que cresce devido à mentira, a fuga de Pinóquio, a baleia (aqui, um monstro marinho) que engole Geppetto e vários outros. Porém, o filme usa de tais acontecimentos para tratar de temas muito maiores como, por exemplo, o antibelicismo, religião, os laços de família e suas imperfeições, amadurecimento, vida e morte.


Antibelicista.


Del Toro critica de forma muito inteligente os horrores da guerra e o fascismo, trazendo situações pesadíssimas como crianças armadas, morte e mostrando que não existe um vencedor. Entretanto, não é só com o drama que essa desaprovação se manifesta, há também o uso do humor. Ao representar Mussolini como um homem bem baixo, em uma limusine desnecessariamente gigante, o diretor mexicano utiliza do ridículo para depreciar essa asquerosa ideologia.


Religião.


Durante o filme vemos questões interessantíssimas sobre religião. Por exemplo: quando Pinóquio questiona o porquê daquela imagem de madeira (Jesus) ser adorada por todos, enquanto ele, que é feito da mesma madeira, é odiado e temido. Outro fato interessante é que o padre sempre aparece ao lado de um soldado fascista. Tudo isso não critica a crença, mas a atitude daqueles que se dizem seguidores dela.


Família.


Guillermo costuma dizer que seus filmes são, na sua maioria, sobre sua relação com seu pai, e, com esse não é diferente. Pinóquio é sobre os laços familiares e o amor. É sobre ensinar as pessoas a amar as outras do jeito que elas são.


Amadurecimento.


Pinóquio facilmente representa uma criança de 4 a 6 anos, ele tem uma energia infinita e uma curiosidade gigantesca. E, é irônico pensar que é ele quem traz diversos ensinamentos (sobre amor e amizade) para as pessoas ao seu redor. É mais irônico ainda pensar que um boneco de madeira tem mais coração que muitos humanos.


Vida e Morte.


Pinóquio não pode morrer, mas os outros ao seu redor sim. Isso traz uma jornada de amadurecimento não só para ele, mas para todos seus amigos. É a brevidade que faz com que a vida seja tão bela. A película nos faz refletir justamente sobre isso: devemos aproveitar cada momento com as pessoas, pois nunca saberemos qual será o último.


Além da história.



Falando sobre a parte técnica, toda equipe de animação, direção, fotografia, design, modeladores de bonecos, animadores, storyboarders, entre outros, faz um trabalho magnífico. A fotografia traz o tom das cenas, o movimento de câmera nos diz muito sobre os personagens e a trilha sonora encanta (lembrando que o filme não é um musical, é um filme com música).


Agora, vamos falar um pouco sobre a animação (e me desculpem, mas é que o meu “eu animador” se empolgou muito com tudo). No início dessa crítica, citei uma fala de Guillermo Del Toro sobre o stop-motion e venho aqui reafirmá-la. O que todos os envolvidos nesse processo fazem é mágico. Os cenários são deslumbrantes, os bonecos são maravilhosos e a animação é extremamente detalhista, fazendo questão de animar movimentos considerados desnecessários, o que dá uma vivacidade extremamente humana aos bonecos. Novamente, citando o diretor, “Ao animar o ordinário, você consegue o extraordinário”. Foram necessários 14 anos para que esse filme fosse feito. Como diria Geppetto: “Tudo aquilo que é bom, precisa de Paciência”.

Em suma, Pinóquio é uma obra-prima e um dos melhores filmes do gênero. Guillermo Del Toro e toda equipe fizeram seu melhor, e isso é o melhor que se pode fazer.


Para quem só se importa com números:

Nota-10/10.


Ficha técnica:

Título original: Pinocchio.

Roteiro: Guillermo del Toro, Patrick McHale.

Direção: Guillermo del Toro, Mark Gustafson.

País de origem: Estados Unidos.

Duração: 117 minutos.

Classificação: 12 anos.


Elenco (original):

Gregory Mann nas vozes de Pinóquio e Carlo.

Ewan McGregor na voz de Sebastião O. Grilo.

David Bradley na voz de Geppetto.

Christoph Waltz na voz de Conde Volpe.

Tilda Swinton nas vozes de Fada e Morte.

Ron Perlman na voz de Mangiafuoco.

Finn Wolfhard na voz de Candlewick.

Cate Blanchett na voz de Spazzatura.

Tom Kenny na voz de Benito Mussolini.

Tim Blake Nelson na voz de O Cocheiro.

Burn Gorman na voz de Carabiniere.

John Turturro na voz de Mestre Cherry.


Dublagem brasileira (estúdio TV Group Digital):

Pedro Burgarelli - Pinóquio e Carlo.

Felipe Grinnan - Sebastião O. Grilo.

Carlos Silveira - Geppetto.

Letícia Quinto - Fada e Morte.

Marcelo Pissardini - Conde Volpe.

Cate Blanchett (reações) e Luiza Viegas (falas) - Spazzatura.

Marco Antônio Abreu - Podestà.

Márcio Marconato - Benito Mussolini.

31 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page