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Crítica: "The Flash" (2023)

A pretensiosa grandiosidade e a ignorante velocidade do DCEU.

Por Igor Biagioni Rodrigues.

Contém spoilers!


Entre maio e agosto de 2011, a DC publicou “Flashpoint” (“Ponto de Ignição”, aqui no Brasil). A minissérie de cinco edições foi escrita por Geoff Johns e desenhada por Andy Kubert. A trama do quadrinho consiste no fato de que, em um certo dia, Barry Allen acorda em um mundo totalmente diferente: Sua mãe está viva, ele não possui poderes e o mundo está passando por uma guerra. Então, Barry tenta contatar a Liga da Justiça, e para sua surpresa, ele descobre que a equipe não existe neste mundo, mas Batman sim (apesar de ser um Batman muito diferente). Com ajuda do Cavaleiro das Trevas, o Velocista Escarlate descobre que o Flash Reverso está envolvido nesses acontecimentos. Assim, Barry tentará voltar ao seu mundo, ou pelo menos, salvar este novo. A HQ foi responsável por reiniciar o universo da DC nos quadrinhos, e assim como nas bandas desenhadas, o filme prometia fazer o mesmo com o DCEU e de maneira grandiosa. Entretanto, esta promessa passou longe de ser cumprida.


Tirando o fato de que longa passou por diversos adiamentos e ameaças de cancelamento após os crimes e confusões de Ezra Miller, a Warner gastou um enorme dinheiro na divulgação desse projeto e na promessa de que este seria o seu filme do ano ("Barbie" mandou um "oi").

A premissa do filme não é muito diferente da HQ. Barry decide voltar no tempo para salvar a sua mãe que havia sido assassinada quando ele era apenas uma criança. Porém, na tentativa de salvar sua família, ele fica preso em um mundo sem a Liga da Justiça e que é totalmente submisso à invasão do General Zod. Com a ajuda de uma versão mais nova de si mesmo, do Batman (interpretado magistralmente por Michael Keaton) e de Supergirl (Sasha Cale fazendo um ótimo trabalho no manto de Kara Zor-El), Barry tentará voltar ao seu mundo e salvar este novo.


Apesar da ideia do quadrinho ser intrigante e de eu realmente gostar da história, acho que ela é superestimada e sua adaptação para um filme do DCEU possui vários problemas.


Em primeiro lugar, a história de "Ponto de Ignição" depende e se sustenta no fato de já conhecermos Barry Allen, seu passado e como isso o moldou no herói que ele se tornou. O longa até rabisca como a tragédia acontecida na sua infância o fez ser quem ele é, como a morte de sua mãe e acusação do pai como o assassino dela impactaram durante toda sua vida. A questão é que não conhecemos o Barry Allen desse universo. O personagem apareceu rapidamente (desculpe o trocadilho) em "Batman vs Superman," e em "Liga da Justiça", mas não vemos sua origem, não o vemos como o herói de Central City e como os acontecimentos do passado o fizeram virar o Velocista Escarlate. Só o vemos como o alívio cômico (bem ruim, na verdade) e integrante de segunda linha da Liga da Justiça, ou seja, não nos conectamos com esse personagem. Com este sendo o primeiro longa metragem do Flash, seria melhor que outra saga fosse adaptada ou que se contasse uma história totalmente diferente.

Em segundo lugar, e aqui reside o maior problema, o filme tenta ser um encerramento de universo compartilhado que nunca existiu. Em 2013, foi lançado "Homem de Aço", o filme que deu origem a esse confuso e quebrado universo compartilhado de filmes da DC. Contudo, por uma falta de planejamento e uma busca por um crescimento precoce deste universo, a Warner apostou em diversos títulos e histórias questionáveis tentando correr atrás do sucesso do MCU. Os filmes tentaram ter uma certa conectividade por um tempo, porém devido aos fracassos de bilheterias e críticas negativas, o estúdio optou por contar histórias mais fechadas, mas que de alguma forma (por participações especiais e cenas pós créditos) continuavam ligados aos anteriores. Dez anos depois, após algumas trocas de presidência da Warner e outros problemas, foi anunciado o fim do DCEU e o início de um novo, comandado por James Gunn e Peter Safran. Assim, Flash seria a carta na manga para reiniciar os longas da DC nos cinemas.


Parecia oportuno e inteligente utilizar a história de "Ponto de Ignição" para esse vindouro reinício, entretanto a forma como tudo foi feito, deixou e muito a desejar.


O filme já se inicia com uma cena ridícula (não só por conta da qualidade extremamente duvidosa do CGI), mas por todo seu conteúdo e extensão. A maneira com que Flash é tratado como o membro de última opção da Liga da Justiça, seu poder dependente e ocasionador de um metabolismo gigantesco, a forma com que Barry salva bebês de um prédio que está caindo (sério que deixaram passar uma cena com o Flash colocando um recém nascido no micro-ondas?) e a repetição das piadas com o Laço da Verdade da Mulher-Maravilha (pois é, Gal Gadot fazendo pontas novamente em um filme deste moribundo universo) faz com que toda sequência seja longa demais e difícil de assistir.

No entanto, nem só de decisões questionáveis e computação gráfica de baixíssima qualidade vive o filme do Flash. E isso se deve ao Batman. Sim, é meio confuso, mas é mais do que justo dizer que o Batman de Michael Keaton é o grande responsável pelos bons momentos do longa. Seja sua aparição inicial como um pintor aposentado e desleixado vivendo em uma mansão abandonada, suas incríveis cenas de luta contra os militares russos, seus diálogos com os outros personagens ou até mesmo na batalha contra kryptonianos, Keaton mostra o porquê de ter tanto orgulho de sempre dizer "Eu sou o Batman" (ele realmente é!). Isso tudo somado a trilha clássica de Danny Elfman, faz com que o Batman de Keaton torne a experiência de assistir Flash minimamente divertida. Outro ponto positivo é a Supergirl de Sasha Cale, só que, infelizmente, possui pouco tempo de tela.

Enfim... Podemos dizer que é só isso que se salva mesmo. Na tentativa de tornar a película algo grandioso, a produção apela para a nostalgia. Não que eu seja contra ao uso da nostalgia como ferramenta para emocionar, desde que seja de forma coerente e bem feita, como dito nas críticas de Mario e Top Gun: Maverick. Todavia, esse recurso é implantado sem motivo nenhum na narrativa deste filme, fazendo com que diversas aparições não causem emoção nenhuma.


Outro aspecto que poderia ter sido melhor trabalhado era a questão do paradoxo como vilão. Afinal, apesar da vilania ter uma encarnação física na figura de Zod e de um próprio Flash, o verdadeiro elemento vilanesco do longa são as consequências de provocar mudanças na linha do tempo e nos momentos cruciais ou até mesmo banais de nossas vidas, pois alteram quem somos.


Em suma, "Flash" é uma tentativa de finalizar um universo compartilhado que nunca existiu, apoiado em participações especiais, com piadas repetitivas e tudo isso somado a um péssimo CGI. Tomara que o novo universo compartilhado da DC seja melhor do que esse que se finaliza. Porque, sendo sincero, para isso não precisa de muito.


Para quem só se importa com números:

Nota-5/10.


Ficha técnica:

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro: Christina Hodson e Joby Harold

Direção: Andy Muschietti

Duração: 144 min.

Classificação: 12 anos.


Elenco:

Ezra Miller como Flash/Barry Allen/Dark Flash

Ben Affleck como Bruce Wayne/Batman

Jeremy Irons como Alfred

Michael Keaton como Bruce Wayne/Batman

Sasha Calle como Kara Zor-El/Supergirl

Michael Shannon como General Zod

Ron Livingston como Henry Allen

Maribel Verdú como Nora Allen

Kiersey Clemons como Iris West

Gal Gadot como Mulher-Maravilha

Jason Momoa como Arthur Curry/Aquaman

George Clooney como Bruce Wayne

Temuera Morrison como Thomas Curry

Christopher Reeve como Superman (arquivo)

Adam West como Batman (arquivo)

Nicolas Cage como Superman

Helen Slater como Supergirl (arquivo)

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