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Crítica: "Vingadores: Guerra Infinita" (2018)

Atualizado: 7 de mai. de 2023

"Perfeitamente equilibrado. Como todas as coisas deveriam ser."

Por Igor Biagioni Rodrigues

Contém spoilers!


Havia uma ideia. Uma ideia como nenhuma outra. Uma ideia de criar um universo compartilhado de filmes que mudaria a história da indústria cinematográfica. "Vingadores: Guerra Infinita" é a culminação de dezenove filmes e dez anos de preparação. Poderia parecer loucura imaginar lá em 2008 que o filme do "Homem de Ferro", um herói não tão popularmente relevante (na época), resultaria em algo jamais visto antes em toda história da sétima arte. Diversos outros filmes de heróis foram feitos antes do primeiro filme do MCU, e apesar de alguns terem continuação, eram contidos em seus próprios universos e histórias, até que decidiram fazer nas telonas aquilo que era tão banal nos quadrinhos: fazer com que todos os heróis e suas histórias fossem de um mesmo universo e, eventualmente, se encontrassem (mérito ao Kevin Feige e outros envolvidos nessa ideia tão corajosa).


Tudo poderia dar errado com o Universo Cinematográfico da Marvel. Acompanhar vários filmes para ver o seguinte e esperar uma conclusão em dez anos? Bom, o público e até mesmo a crítica compraram essa ideia, e o investimento teve o seu lucro (principalmente para a Disney). Aquilo que já era revolucionário prometia algo maior ainda: dois filmes eventos (sendo Guerra Infinita o primeiro filme/primeira parte) que seriam a conclusão da chamada Saga do Infinito. E, é neste quesito que se encontra um dos inúmeros brilhos do longa, aprender com os últimos dezoito filmes e trazer o que há de melhor neles em narrativa, diálogos, ação, tom, humor, drama e relação de personagens.

Os roteiristas, Stephen McFeely e Christopher Markus, juntamente com os diretores, Anthony Russo e Joe Russo possuíam a difícil missão criar um filme coeso e com inúmeros personagens. Porém, depois do laboratório de testes que foi "Capitão América: Guerra Civil", essa missão foi completada à beira da perfeição. É padrão decidir separar em grupos os personagens em uma história em que há a presença de muito deles, mas na película em questão isso ocorre com muita fluidez. Após Hulk ser mandado para a Terra em um último esforço de Heimdall, ele encontra Dr. Estranho e Wong, que o levam ao Tony Stark. Após a chegada de Fauce de Ébano e Cull Obsidian, o quarteto recebe a ajuda do Homem-Aranha no combate.


Nisto, o Dr. Estranho é capturado e o quarteto se separa, pois Homem de Ferro e Homem-Aranha vão atrás de Fauce para resgatar a Joia do Tempo e o mago. Enquanto isso, devido a destruição da nave asgardiana, Thor é lançado no espaço e é encontrado pelos Guardiões da Galáxia, que também se dividem, uma vez que, Thor, Rocket e Groot vão para Nidavelir para forjar um novo martelo para o deus do trovão. Peter Quill, Gamora, Drax e Mantis vão até Luganenhum para tentar impedir que Thanos pegue a Joia da Realidade com o Colecionador.


Bruce Banner, que não participou do primeiro embate em Nova York utiliza-se do celular de Tony para contactar o Capitão América e sua equipe de renegados (Viúva-Negra e Falcão), que vão para a Escócia salvar Wanda e Visão de Corvus Glaive e Próxima Meia-Noite. Depois disso, os cinco heróis vão até a base dos Vingadores, onde encontram o Máquina de Combate. Lá discutem o que fazer com Visão e a Joia da Mente. O Capitão América chega à conclusão de levá-los até Wakanda, encontrando o Pantera Negra, as Dora Milaje e o Soldado Invernal. Todas essas conexões são feitas de uma maneira bem pensada e leve. É impossível não se divertir assistindo esses encontros.

Dito tudo isso, vamos para a verdadeira Joia desse filme (sim, foi um trocadilho): Thanos, que vai além do ótimo CGI, captura de movimento e interpretação excelente de Josh Brolin. Fora suas pequenas aparições aqui e ali, não sabíamos muito sobre ele. Um dos pontos fracos dos filmes da Marvel era o desenvolvimento dos seus vilões, não é o caso aqui. Em menos de dez minutos o "queixudo roxo" já demonstra toda sua ameaça, espancando o Hulk, matando Heimdall e quebrando o pescoço do queridinho do público, Loki.


Fora isso, em um filme com tantos heróis, qualquer um poderia ser o destaque aqui, entretanto essa não é a escolha do roteiro, pelo contrário, o foco é retirado deles e colocado no vilão. Thanos é tão fora da curva que, apesar de ser o vilão, ele passa pela Jornada do Herói.




A Jornada do Herói é um conceito narrativo criado pelo antropólogo Joseph Campbell, descrito em seu livro "O Herói de Mil Faces", em que ele faz uma análise de diversas histórias mitológicas e como resultado encontrou um determinado padrão, como se fosse uma fórmula de storytelling (contação de histórias). Ela é dividida em 12 partes, mas isso é assunto para um outro dia. Vamos analisar aqui a trajetória de Thanos dentro dessa "fórmula" de forma mais simplificada.


Como comentado pelo cineasta Pat Solomon, dividindo essas doze partes em três, poderemos ter a seguinte divisão: Separação, Iniciação e Retorno. A separação é o motor pelo qual o herói sai em sua jornada (Titã, lua de Saturno e terra natal de Thanos, estava passando por problemas de superpopulação. Ele sugeriu o extermínio de metade do planeta como solução, foi chamado de louco, seu planeta foi devastado pela fome e falta de recursos. Então, ele decide impedir que o mesmo aconteça com o universo). A Iniciação consiste nos percalços do caminho (o combate com os Vingadores, Guardiões da Galáxia e fora os outros desafios enfrentados pelo titã). E o retorno, seria a volta ao lar depois de completar sua jornada (neste caso, Thanos faz o que prometeu e vê o pôr do Sol em um "universo agradecido").


Mas o que mais difere Thanos de outros vilões? Seu objetivo não é aquele clichê de destruir o universo? Sim, mas ele tem uma motivação (uma bem exagerada, confesso). O roteiro enfatiza várias vezes o porquê de Thanos fazer o que faz. E quando questionado sobre a praticidade e falha moral de seu plano, ele traz como resposta a aleatoriedade como justificativa, uma vez que, o extermínio não foca em um grupo, uma raça, uma espécie ou algo do tipo, ele não é um genocídio, ele é imparcial. É isso que Thanos acredita e nos faz pensar (por mais que matar metade do universo jamais seria uma decisão imparcial).


Muito se foi questionado sobre a adaptação de Thanos para as telonas. Nos quadrinhos, o titã louco foi criado pelo brilhante Jim Starlin, que fez do personagem alguém que passou por momentos difíceis, que vê o universo através de um olhar niilista e pra fechar a conta, se apaixonou por uma entidade, a Morte. Em "Desafio Infinito" (obra que inspirou parte do enredo do filme) Thanos faz de tudo para buscar a atenção de seu amor impossível, e nessa relação tóxica ele decide apagar metade da vida do universo para impressionar e agradar o seu amor. Essa paixão vira mais que um amor, vira uma fixação, uma ambição. Por mais interessante que isso seja, só funciona nos quadrinhos mesmo. Deixar isso de lado e trabalhar a relação de Thanos com Gamora, o humaniza e o leva a um patamar além de vilão maquiavélico e maniqueísta, fazendo com que ao lado de Loki e Killmonger, ele seja um dos melhores vilões do UCM e até mesmo dos filmes de herói.



Mas nem só de acertos vive o filme. Algumas brechas de roteiro em relação aos filmes anteriores podem ser encontradas. Por exemplo: o fato de que em "Guardiões da Galáxia" é dito que Thanos exterminou todos no planeta de Gamora, e não metade, como vemos aqui. Outro aspecto negativo é em relação ao personagem do Capitão América (e outros heróis do núcleo de Wakanda), que perdem um pouco de peso e acabam servindo apenas para cenas de ação.


No entanto, "Vingadores: Guerra Infinita" consegue ser um marco para os filmes de herói, sendo um dos longas com mais cara de história em quadrinhos e um marco para o Cinema. E além disso, é um presente para os fãs que esperaram dez anos e assistiram várias produções que culminaram nessa ótima obra.


Para quem só se importa com números:

Nota-8/10.


Ficha técnica:

Título Original: Avengers: Infinity War

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely

Direção: Anthony e Joe Russo

Duração: 149 minutos

Classificação: 12 anos


Elenco:

Josh Brolin como Thanos

Robert Downey Jr. como Homem de Ferro/Tony Stark

Chris Evans como Nômade/Steve Rogers

Chris Hemsworth como Thor

Benedict Cumberbatch como Dr Estranho

Scarlett Johansson como Viúva Negra/Natasha Romanoff

Mark Ruffalo como Bruce Banner/Hulk

Chadwick Boseman Pantera Negra/T`Challa

Tom Holland como Homem-Aranha/Peter Parker

Benedict Wong como Wong

Don Cheadle como Máquina de Combate/James Rhodes

Sebastian Stan como Soldado Invernal/Bucky Barnes

Anthony Mackie como Falcão/Sam Wilson

Tom Hiddleston como Loki

Paul Bettany como Visão

Elizabeth Olsen como Wanda

Letitia Wright como Shuri

Danai Gurira como General Okoye

Winston Duke como M'Baku

Chris Pratt como Senhor das Estrelas/Peter Quill

Zoe Saldana como Gamora

Dave Bautista como Drax

Pom Klementieff como Mantis

Karen Gillan como Nebulosa

Bradley Cooper como Rocket Racoon

Vin Diesel como Groot

Carrie Coon como Próxima Mei-Noite

Peter Dinklage como Eitri

Terry Notary como Cull Obsidian

Benicio del Toro como Colecionador

Gwyneth Paltrow como Pepper Potts

William Hurt como General Ross

Idris Elba como Heimdall

Stan Lee como Motorista da Excursão

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